Errar na educação dos filhos é inevitável, mas os pais da criança com deficiência, de acordo com os especialistas,
estão mais sujeitos a isso, a começar pelo fato de que o modelo de
educação que carregam de seus pais não traz, em geral, a experiência de
cuidar de um filho com necessidades especiais. Nesse aspecto, segundo o pediatra Ruy Pupo Filho (pai de uma criança com Down e autor de Como Educar
Seus Filhos, Editora Alegro, 2004), "assim como as crianças ou as
pessoas em geral, cada deficiência terá características próprias que os
pais vão ter de conhecer aos poucos para aprender a lidar com ela". O
que pode dificultar essa tarefa, para a pedagoga Mara Lúcia Sartoretto, é
antes de tudo os pais não aceitarem a deficiência. "Só depois disso vão
conseguir buscar uma forma própria de educar", ressalta Mara, que é
diretora do Centro de Apoio da Associação de Familiares e Amigos do
Down. Pela experiência do presidente da Associação Brasileira de
Neurologia e Psiquiatria Infantil, José Belisário Filho, o pai é o que
na maior parte das vezes tem mais dificuldade. "Muitos saem de casa
porque se sentem ofendidos com o problema, outros se omitem na educação,
sendo esse um sinal de que também não aceitaram." A situação complica
na educação da criança, segundo Belisário, porque o pai que está
presente tem papel fundamental. "Ele costuma ter mais coragem de deixar o
filho se arriscar do que a mãe." Os especialistas indicam a seguir os erros mais comuns na hora de educar a criança com deficiência.
Superproteger Está na base de quase todos os problemas. É comum tratar o filho como "coitadinho", com cuidados em excesso. Mas é difícil os pais notarem os exageros por conta da tendência a querer minimizar o sofrimento da criança. Precisam permitir que ela corra alguns riscos para que avance no seu desenvolvimento. Uma forma de identificar a superproteção é verificar se o comportamento social do filho acompanha o de colegas
da mesma idade. Se, por exemplo, os amigos dormem na casa uns dos
outros, menos o seu filho, provavelmente há preocupação em demasia de
que algo ruim aconteça.
Subestimar o potencial Desde cedo a criança
começa a entender o mundo a partir das atitudes dos pais. Ela tem
percepções intuitivas, uma capacidade grande de leitura dos
comportamentos, presente mesmo em uma situação de deficiência mental
grave. Por isso, não adianta repetir a seu filho que acredita que ele tem condições de fazer algo se, na hora, você interfere para ajudar. Isso será prejudicial à auto-estima
dele. Pais que ficam muito presos à deficiência não conseguem enxergar o
filho como alguém cheio de potencialidades e podem limitá-lo mais.
Não dar limites Criança especial também deve
tomar bronca se faz birra ou desobedece. Para manter essa linha de
conduta, os pais têm de ficar firmes diante de reprovações alheias, que
costumam chegar por olhares e até intervenções como "coitadinho, deixa".
Se derem muito valor a elas, ficarão perdidos e a criança pode vir a
usar essa fraqueza para conseguir o que quer.
Fazer tudo no lugar do filho Tornar a criança
com deficiência independente na medida do possível é questão de
sobrevivência. Não fazer as coisas por ela é o primeiro passo
e exige paciência. Mostre como se faz até que ela consiga sozinha.
Valorize cada conquista mesmo que pareça pequena. Elogios são um
estímulo para que seu filho se desenvolva em outras habilidades.
"Trancar" a criança em casa Terapias de
estimulação não funcionam se não houver contato social. Ele é
fundamental no desenvolvimento porque, à medida que a criança se expõe,
ela cria outras habilidades. O grande receio dos pais é que o filho se
machuque, seja segregado ou ninguém saiba cuidar dele. Mas é justamente a
ausência dos pais que estimula os outros a encontrar saídas para
ajudar.
Infantilizar Mesmo que o filho cresça, é comum
ser tratado sempre como criança, principalmente nos casos de síndrome de
Down e de deficiência mental. O filho com 15 anos não deve, por
exemplo, ganhar uma festa infantil e bonecas ou carrinhos para brincar. A
criança especial tem potenciais que só aparecem diante de situações
novas.
Cobrar de um filho que cuide do irmão especial
Nem é preciso fazer isso porque, se os pais não estão por perto,
geralmente o irmão cuida muito bem do outro. Se não faz, pode ser uma
reação de ciúme ao perceber que os pais gastam muita energia e atenção
com o irmão especial, sobrando pouco para ele. Aí, a cobrança dos pais
só piora a situação.
Repreender a sexualidade Em geral, o deficiente
possui sexualidade igual à de qualquer pessoa. Mas existem tabus de que
sejam assexuados ou tenham a sexualidade exacerbada. Nesse último caso,
trata-se de distúrbio de comportamento por falta de educação mesmo,
alertam os especialistas. Para evitar, é preciso ensinar o filho que há
lugar e hora para se masturbar, por exemplo. A sexualidade também vai
ocupar o espaço que for possível na vida da criança se ela não tiver
atividades como a escola, as artes e o esporte, que são excelentes
formas de canalizar a energia sexual.
Não incluir na escola regular Grande parte dos
pais têm medo de que, nesse ambiente, o filho sofra preconceitos. Se a
exposição da criança for feita de forma tranqüila e desde cedo, ela só
tem a ganhar com isso. A escola é um espação de cidadania em que se
aprende com a convivência, com os outros colegas. Eles servirão de
modelo para a criança com deficiência e ela ensinará muito a todos os
outros.
FONTE: http://revistacrescer.globo.com/Crescer/0,19125,EFC692819-2337,00.html
FONTE: http://revistacrescer.globo.com/Crescer/0,19125,EFC692819-2337,00.html