Aimee Mullins, amputada, tornou-se uma palestrante e modelo muito famosa
A americana Aimee Mullins, 33 anos tornou-se modelo e campeã de atletismo. Em 1996, quebrou o recorde nas modalidades de 100, 200 metros e salto em distância. Deu o que falar nos jogos paraolímpicos de Atlanta.
Aimee nasceu com um problema raro na formação óssea das pernas, tendo que amputá-las logo abaixo do joelho quando tinha apenas 1 ano. Certa vez, ao encontrá-la num evento de moda, o estilista britânico Alexander Mcqueen a convidou para um desfile em Londres. Modelou uma prótese de madeira para ela, imitando uma bota longa. Durante o desfile da Aimee, a imprensa nem desconfiou da prótese. Quando o boato começou a correr no dia seguinte, McQueen foi acusado de estar transformando o “London Fashion Show” num “London Freak Show”.(Veja: História de superação do amputado Oscar Pistorius)
Aimee começou a ser perseguida pelos jornalistas, negando todas as entrevistas. Só voltou a cedê-las depois da atuação que fez no filme Cremaster Cycle, do Matthew Barney. No filme, Aimee encarna vários personagens, o mais interessante é um leopardo. Faz também o alter-ego feminino do Matthew Barney, vestindo botas de vidro, encaixadas na parte do joelho. A “cyber-musa”, como alguns dizem, fez presença na Revista People como uma das 50 mulheres mais belas do mundo. Bom, uma coisa é certa, ela tem senso de humor, ainda mais quando se trata dos comentários da imprensa sobre sua singular condição nas passarelas: “The press describing me as wearing fake legs. They are not fake, they are prosthetics, they’re real!”, e ri. Abaixo, as fotos de sua participação no Cremaster Cycle, do M. Barney:
Você tem muitos tipos de pernas. Pode explicar como isso funciona?
Mullins: Tenho 12 pares. Minhas próteses Cheetah servem para correr, nadar ou andar de bicicleta. Agora, neste momento, estou usando as pernas Robocop, que possuem um sistema de absorção de impacto. Daí, tenho quatro pares de pernas cosméticas, feitas de silicone e que imitam a pele. Essas são incrivelmente parecidas com as humanas, com veias, pelinhos e tendões. São feitas sob medida.
Veja abaixo, a entrevista que Aimme Mullins concedeu a Revista Galileu.
O que fez você perceber que queria pernas mais parecidas com as normais?
Mullins: Quando era adolescente, fui ao Museu de Cera Madame Tussauds, em Londres. Vi uma reprodução da modelo Jerry Hall. Tudo estava exatamente replicado ali: o tom de pele, a cor dos olhos. Eu usava pernas ortopédicas. Quer dizer: que raio de garota de 17 anos ia gostar de usar calçados ortopédicos? Percebi que estava falando com as pessoas erradas. Precisava achar esses caras em Hollywood que criavam coisas como o Exterminador do Futuro. Um pessoal que não estava carregado com a visão tradicional dos fabricantes e médicos.Alguém já chamou você de ciborgue?
Mullins: As pessoas têm me chamado de tudo: transumana, pós-humana, ciborgue. Alguém que usa lentes de contato é um ciborgue? Se considerarmos que um celular ou uma tesoura são próteses, no sentido de que eles aumentam nossas capacidades, nós somos ciborgues quando os usamos?
A tecnologia está chegando ao ponto de tornar uma deficiência uma super-habilidade?
Mullins: Nós já estamos lá nas cirurgias oculares a laser. Não existe mais o estigma de usar óculos, como havia nos anos 1940 e 1950. A tecnologia nos deu essa super-habilidade. O golfista Arnold Palmer não conseguiria continuar jogando sem que houvesse uma chapa de titânio em seu quadril. Tiger Woods fez a cirurgia a laser duas vezes nos olhos. Isso deu a ele uma visão 20/15 – ainda melhor do que a visão 20/20, considerada “perfeita”. É uma clara vantagem em relação a outros atletas num esporte em que a mira é tão importante.
As pessoas deveriam se incrementar assim?
Mullins: Mas elas já fazem isso. Se alguém quer ter 50 piercings ou modificar o corpo colocando próteses de carbono para imitar chifres, elas podem. Deveríamos ter um debate ético sobre isso? E tem a cirurgia plástica. Por que uma prótese é associada a uma deficiência e um implante nos seios é tido como uma melhoria? Até onde a gente pode levar esse conceito? Eu acho que isso não tem limites.
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