No dia 8 de outubro de 2011
criei um blog chamado Vida de Cadeirante (link: http://mayconemerson.blogspot.com.br/),
até então com o objetivo de passar o tempo e não ficar sem nada pra fazer. Na
primeira postagem, me lembro de que fiz uma breve apresentação dos objetivos do
blog e compartilhei na principal rede social da época, o Orkut. Logo em
seguida, fui colocando postagens após postagens e compartilhando tudo pelo
Orkut e também pelo MSN. Algumas pessoas leram, gostaram, elogiaram e assim fui
criando coragem de todos os dias dar uma passada pelo blog e postar alguma
novidade por lá.
Já em 2012, com a chegada bombástica da nova rede social
Facebook tive a necessidade de aprender a fuçar nessa que até então era uma
novidade em minha vida. Quando finalmente aprendi a compartilhar links pelo
Face coloquei uma postagem do blog por lá e depois de uns 20 minutos ou um
pouco mais fui olhar no site do blog quantas visualizações tinha até o momento.
Que susto que levei viu. Não me lembro da quantidade certa, mas lembro que logo
no primeiro compartilhamento de link do blog que postei na nova rede social 86
pessoas tinham lido o que eu havia acabado de postar, número que não tinha
alcançado em um dia pelo Orkut.
A cada dia que passava esse blog chamado Vida de
Cadeirante não era mais um blog qualquer, mas PRINCIPALMENTE um instrumento de
grito à sociedade voltada a nós deficientes. Hoje exatamente às 9 horas e 40
minutos do dia 24 de junho de 2013 tem o número exato de 14.451 visualizações,
fato que comprova que o Vida de Cadeirante foi muito além de suas expectativas
iniciais e hoje é como dito antes, um grito para toda sociedade de que nós
deficientes queremos mudança imediata em nossas vidas, principalmente no que
toca a nossa qualidade de vida, nossa socialização, saúde, educação, entre
outras coisas.
Nossa amada cidade de Três Corações carece e muito das
questões de acessibilidade conforme dito na carta anterior. Em 2007 a cidade
participou pela primeira vez do Teleton, programa anual do SBT, no quadro
cidade solidária que logo de cara conseguiu a quantia de R$ 10.000,00. Muito
bom isso não? Mas tem um fato que me preocupa e muito. O que adianta nossa
cidade participar do Teleton todos os anos fazendo sua doação e não ser um
exemplo de acessibilidade nem para seus cidadãos deficientes? Às vezes fico
pensando: se a organização do programa Teleton visitasse todas as cidades que
participam do programa com suas doações, o que eles diriam de Três Corações?
Não estou dizendo que a cidade deva parar de participar e fazer suas doações ao
programa, não é isso! O que estou querendo dizer é que nossa cidade precisa
urgentemente ser um exemplo de acessibilidade, já que diz estar tão comprometida
com a questão.
No nosso dia a dia enfrentamos muitos obstáculos, mas se
for pra enumerar o principal obstáculo de hoje, diria que não temos um
transporte acessível e de qualidade para nos levar nem mesmo para cuidar de
nossa saúde. Mas daí vem àquela pergunta que deve estar salivando na boca de
todos vocês: e os ônibus da TRECTUR, vocês não pagam certo? Sim não pagamos,
mas a maioria das pessoas portadoras de algum tipo de deficiência assim como
eu, precisam de acompanhantes e tem outro fator mais agravante nisso: estou
dizendo sobre minha situação, quando vou para um ponto de ônibus tenho que
enfrentar um morro grandiosíssimo para chegar até lá. Isso sendo empurrado pela
minha mãe, na maioria das vezes, que pela falta de competência de nossa cidade
durante 21 anos, que é a minha idade, teve que me carregar no colo, depois na
cadeira de rodas, e hoje sofre de hérnia de disco na coluna. Aliás, sem ter nem
um médico especialista na cidade para cuidar dela. Olha onde nossa cidade
chegou: além de não ter um transporte adaptado, ainda deixa com hérnia de disco
uma pessoa que poderia muito bem contribuir com a sociedade, mas pela falta de
competência e consideração de nossa Administração não pode fazer, pois sempre
precisou dar total atenção ao filho.
Na
cidade de São Paulo existe um programa que se chama “Serviço de Atendimento
Especial (mais conhecido como ATENDE)”. Esse serviço foi criado pelo decreto municipal
36.071, de 9 de maio de 1996, é uma modalidade de transporte porta a porta,
gratuito, com regulamento próprio, oferecido pela Prefeitura do Município de
São Paulo, destinado às pessoas portadoras de deficiência física com alto grau
de severidade e dependência, impossibilitadas de utilizar outros meios de
transporte público. O gerenciamento é feito pela SPTrans e sua operação compete
às empresas de transporte coletivo do município de São Paulo.
Este
serviço destina-se prioritariamente a reabilitação, tratamento de saúde,
educação e, caso haja oferta de veículos, trabalho, esporte, lazer, cultura e
outras atividades da vida diária. As pessoas transportadas são devidamente
cadastradas e agendam sua programação de viagens sempre vinte dias antes do
início de cada mês.
Como muitas pessoas, faço tratamento no Centro de
Reabilitação Física da Colônia Santa Fé. Meus gastos semanais com transporte
para fazer tal tratamento são bastante consideráveis, tendo em vista minha
condição financeira e o preço de ônibus, pois necessito que minha mãe vá
comigo. Eu vejo por lá também, que eles possuem uma Kombi que busca em casa as
pessoas, mas olha que interessante: os pacientes têm que pagar por esse serviço.
E mais: essa Kombi não é adaptada, fazendo com que o motorista precise transportar
no colo o paciente para colocar na Kombi e depois na cadeira de rodas. Estranho
né? Você ser transportado em um automóvel que não te oferece estrutura nenhuma,
precisar que o motorista (que com o tempo passará a ter problemas na coluna,
correndo o risco de se tornar inválido), o pegue no colo, e ainda ter que pagar
por este serviço.
Está certo isso?
Vamos lá Três Corações, adquirir veículos adaptados para
nos transportar gratuitamente, para que possamos gozar dos direitos mais
básicos do qualquer cidadão, quais sejam: saúde, educação, trabalho, esporte,
lazer, cultura, etc.
SURDA É A CIDADE QUE NÃO OUVE SEUS CIDADÃOS
MUDA É A CIDADE QUE NÃO SE PRONUNCIA SOBRE AS QUESTÕES DA
ACESSIBILIDADE
CEGA É A CIDADE QUE NÃO VÊ O SOFRIMENTO DE SUA POPULAÇÃO
E POR FIM, PARALÍTICA É A CIDADE QUE NÃO CAMINHA NA
QUALIDADE DE VIDA DE SEU POVO.
TRÊS
CORAÇÕES: LEVANTA-TE E ANDA!
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