segunda-feira, 1 de julho de 2013

TRÊS CORAÇÕES – UMA CIDADE DEFICIENTE



No dia 8 de outubro de 2011 criei um blog chamado Vida de Cadeirante (link: http://mayconemerson.blogspot.com.br/), até então com o objetivo de passar o tempo e não ficar sem nada pra fazer. Na primeira postagem, me lembro de que fiz uma breve apresentação dos objetivos do blog e compartilhei na principal rede social da época, o Orkut. Logo em seguida, fui colocando postagens após postagens e compartilhando tudo pelo Orkut e também pelo MSN. Algumas pessoas leram, gostaram, elogiaram e assim fui criando coragem de todos os dias dar uma passada pelo blog e postar alguma novidade por lá.
            Já em 2012, com a chegada bombástica da nova rede social Facebook tive a necessidade de aprender a fuçar nessa que até então era uma novidade em minha vida. Quando finalmente aprendi a compartilhar links pelo Face coloquei uma postagem do blog por lá e depois de uns 20 minutos ou um pouco mais fui olhar no site do blog quantas visualizações tinha até o momento. Que susto que levei viu. Não me lembro da quantidade certa, mas lembro que logo no primeiro compartilhamento de link do blog que postei na nova rede social 86 pessoas tinham lido o que eu havia acabado de postar, número que não tinha alcançado em um dia pelo Orkut.
            A cada dia que passava esse blog chamado Vida de Cadeirante não era mais um blog qualquer, mas PRINCIPALMENTE um instrumento de grito à sociedade voltada a nós deficientes. Hoje exatamente às 9 horas e 40 minutos do dia 24 de junho de 2013 tem o número exato de 14.451 visualizações, fato que comprova que o Vida de Cadeirante foi muito além de suas expectativas iniciais e hoje é como dito antes, um grito para toda sociedade de que nós deficientes queremos mudança imediata em nossas vidas, principalmente no que toca a nossa qualidade de vida, nossa socialização, saúde, educação, entre outras coisas.
            Nossa amada cidade de Três Corações carece e muito das questões de acessibilidade conforme dito na carta anterior. Em 2007 a cidade participou pela primeira vez do Teleton, programa anual do SBT, no quadro cidade solidária que logo de cara conseguiu a quantia de R$ 10.000,00. Muito bom isso não? Mas tem um fato que me preocupa e muito. O que adianta nossa cidade participar do Teleton todos os anos fazendo sua doação e não ser um exemplo de acessibilidade nem para seus cidadãos deficientes? Às vezes fico pensando: se a organização do programa Teleton visitasse todas as cidades que participam do programa com suas doações, o que eles diriam de Três Corações? Não estou dizendo que a cidade deva parar de participar e fazer suas doações ao programa, não é isso! O que estou querendo dizer é que nossa cidade precisa urgentemente ser um exemplo de acessibilidade, já que diz estar tão comprometida com a questão.
            No nosso dia a dia enfrentamos muitos obstáculos, mas se for pra enumerar o principal obstáculo de hoje, diria que não temos um transporte acessível e de qualidade para nos levar nem mesmo para cuidar de nossa saúde. Mas daí vem àquela pergunta que deve estar salivando na boca de todos vocês: e os ônibus da TRECTUR, vocês não pagam certo? Sim não pagamos, mas a maioria das pessoas portadoras de algum tipo de deficiência assim como eu, precisam de acompanhantes e tem outro fator mais agravante nisso: estou dizendo sobre minha situação, quando vou para um ponto de ônibus tenho que enfrentar um morro grandiosíssimo para chegar até lá. Isso sendo empurrado pela minha mãe, na maioria das vezes, que pela falta de competência de nossa cidade durante 21 anos, que é a minha idade, teve que me carregar no colo, depois na cadeira de rodas, e hoje sofre de hérnia de disco na coluna. Aliás, sem ter nem um médico especialista na cidade para cuidar dela. Olha onde nossa cidade chegou: além de não ter um transporte adaptado, ainda deixa com hérnia de disco uma pessoa que poderia muito bem contribuir com a sociedade, mas pela falta de competência e consideração de nossa Administração não pode fazer, pois sempre precisou dar total atenção ao filho.
Na cidade de São Paulo existe um programa que se chama “Serviço de Atendimento Especial (mais conhecido como ATENDE)”. Esse serviço foi criado pelo decreto municipal 36.071, de 9 de maio de 1996, é uma modalidade de transporte porta a porta, gratuito, com regulamento próprio, oferecido pela Prefeitura do Município de São Paulo, destinado às pessoas portadoras de deficiência física com alto grau de severidade e dependência, impossibilitadas de utilizar outros meios de transporte público. O gerenciamento é feito pela SPTrans e sua operação compete às empresas de transporte coletivo do município de São Paulo.
Este serviço destina-se prioritariamente a reabilitação, tratamento de saúde, educação e, caso haja oferta de veículos, trabalho, esporte, lazer, cultura e outras atividades da vida diária. As pessoas transportadas são devidamente cadastradas e agendam sua programação de viagens sempre vinte dias antes do início de cada mês.
            Como muitas pessoas, faço tratamento no Centro de Reabilitação Física da Colônia Santa Fé. Meus gastos semanais com transporte para fazer tal tratamento são bastante consideráveis, tendo em vista minha condição financeira e o preço de ônibus, pois necessito que minha mãe vá comigo. Eu vejo por lá também, que eles possuem uma Kombi que busca em casa as pessoas, mas olha que interessante: os pacientes têm que pagar por esse serviço. E mais: essa Kombi não é adaptada, fazendo com que o motorista precise transportar no colo o paciente para colocar na Kombi e depois na cadeira de rodas. Estranho né? Você ser transportado em um automóvel que não te oferece estrutura nenhuma, precisar que o motorista (que com o tempo passará a ter problemas na coluna, correndo o risco de se tornar inválido), o pegue no colo, e ainda ter que pagar por este serviço.
Está certo isso?
            Vamos lá Três Corações, adquirir veículos adaptados para nos transportar gratuitamente, para que possamos gozar dos direitos mais básicos do qualquer cidadão, quais sejam: saúde, educação, trabalho, esporte, lazer, cultura, etc.
            SURDA É A CIDADE QUE NÃO OUVE SEUS CIDADÃOS
            MUDA É A CIDADE QUE NÃO SE PRONUNCIA SOBRE AS QUESTÕES DA ACESSIBILIDADE
            CEGA É A CIDADE QUE NÃO VÊ O SOFRIMENTO DE SUA POPULAÇÃO
            E POR FIM, PARALÍTICA É A CIDADE QUE NÃO CAMINHA NA QUALIDADE DE VIDA DE SEU POVO.

TRÊS CORAÇÕES: LEVANTA-TE E ANDA!

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