quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Epilepsias

Estas perguntas e nossas respostas visam orientar de maneira simples sobre a 10 (dez) perguntas mais freqüentes sobre as EPILEPSIAS.
  1. O que é epilepsia ?
  2. Quais são os médicos que tratam das epilepsias ?
  3. A epilepsia é hereditária ou contagiosa ?
  4. O que fazer quando uma pessoa tem uma crise epiléptica ?
  5. O que são as CONVULSÕES ?
  6. Quais são as principais causas de epilepsias e os fatores desencadeantes de crises epilépticas ?
  7. Quais são os principais tipos de epilepsias ?
  8. O que são medicamentos antiepilépticos ?
  9. As epilepsias tem cura ?
  10. O que é Dieta Cetogênica e quais são os outros tratamentos para as epilepsias de difícil controle ?


1 - O que é epilepsia ?

Segundo nossa concepção, baseada no conceito da EFA (Epilepsy Foundation of America-USA), as epilepsias são condições físicas, singulares, que ocorrem quando surgem, inesperadamente, mudanças breves e repentinas no funcionamento bio-elétrico do cérebro. Para fins de compreensão e desmitificação comparemos uma crise (ou 'ataque') epiléptico a um "curto circuito" momentâneo que afeta nossas células nervosas, como parte de uma disfunção do Sistema Nervoso Central, podendo ocorrer uma perda de consciência momentânea, acompanhada de outros distúrbios (como os abalos musculares, movimentos bruscos, perda do equilíbrio corporal, alterações dos movimentos e das ações de uma pessoa, na dependência do tipo de epilepsia que o acomete). AS EPILEPSIAS PODEM ATINGIR QUALQUER PESSOA, INDEPENDENTEMENTE DE SUA RAÇA, IDADE OU NACIONALIDADE.


2 - Quais são os médicos que tratam das epilepsias ?
  • No caso de crianças, em especial as que tem dEficiência, indicamos o acompanhamento por um NEUROPEDIATRA, e sugerimos um acompanhamento paralelo com um pediatra especialista em desenvolvimento infantil.

  • Para jovens e adultos são mais indicados NEUROLOGISTAS e NEUROCIRURGIÕES, principalmente para diagnóstico inicial e tratamento com medicamentos, ou em situações refratárias às medicações , em quadros de difícil controle das convulsões, onde são indicadas cirurgias especializadas.

Há ainda a possibilidade de trabalhos interdisciplinares, em equipe, como no caso de tratamentos com a Dieta Cetogênica, onde os médicos neurologistas trabalharam em conjunto com Nutricionistas, Clínicos Gerais e Pediatras.


3 - A epilepsia é hereditária ou contagiosa ?

As diversas formas de epilepsia não são contagiosas, podem porém estar associadas a quadros de natureza genética, como a Esclerose Tuberosa, onde o aparecimento de crises epilépticas faz parte do quadro clínico e sintomatológico desta condição.

Todas as pessoas podem herdar GRAUS variados de susceptibilidade a convulsões, e quase sempre, quando não se encontra uma causa, há uma tendência para indicar a pesquisa de fatores hereditários como predisponentes ou causais de epilepsias, principalmente em crianças com algumas dEficiências graves, como as síndromes raras.


4 - O que fazer quando uma pessoa tem uma crise epiléptica ?

Primeiramente não ter qualquer forma discriminatória de atitude, principalmente em ambientes públicos (ex.: escola), a fim de não acentuar ou naturalizar preconceitos que são vivenciados pelas pessoas com epilepsia, como por exemplo a popular afirmação de que " a baba (salivação excessiva) transmite a epilepsia", a ‘baba’ NÃO PEGA pois as epilepsias não são doenças, nem são contagiosas.

Há algumas medidas a serem tomadas para auxiliar e promover um maior conforto e segurança para a pessoa durante uma convulsão ou crise epiléptica ( há casos, como nas 'ausências' que não há muitas atitudes a tomar a não ser a atenção para com o seu tempo de duração).

Listamos algumas das providências emergenciais que podem ser tomadas principalmente quando a pessoa já conhece os passos a serem seguidos e tem alguma noção de primeiros socorros:

A - Atendimento a crianças:

1º - não tente remover a criança do lugar onde está. Primeiramente avalie se este é um local que tem risco de machucá-la ou de causar algum acidente como bater a cabeça contra algum objeto.

2º- NÃO coloque a sua mão ou objetos na boca da criança.É muito comum se ouvir a inverdade de crianças que tem sufocamento com a própria língua, isto não vai ocorrer. Esta precaução é também porque há possibilidade se ferir a criança ou então desta morder involuntariamente a mão de quem a socorre.

3º Retire qualquer peça do vestuário que possa impedí-la de respirar livremente durante a convulsão.

4º Coloque a criança de lado, evitando que ela aspire as secreções e/ou muco que possam resultar de sua crise.

5º Procure monitorar o tempo da convulsão, e quando esta passar dos 05 (cinco) minutos procure o serviço médico de urgência mais próximo, ou chame uma ambulância.

B - Atendimento a adultos:

1º - Repita todas as medidas já prescritas para atendimento a crianças e jovens, porém observe alguns cuidados no ato de intervenção e ajuda.

2º - Afaste os curiosos e pessoas que, quase sempre, se aglomeram em torno da pessoa em crises convulsivas em público.

3º - Retire a gravata ou outro tipo de possibilidade de ampliar a dificuldade respiratória da pessoa em crise convulsiva.

4º - Coloque-a em posição o mais confortável possível, deitada, não tentando movimentá-la e nem tentando interromper os possíveis movimentos físicos bruscos que acompanham uma convulsão.

5º - Observe o tempo de convulsão, e caso esta se prolongue procure o Serviço Médico de Urgência mais próximo, solicitando uma remoção por serviço especializado (quando possível).


5 - O que são as CONVULSÕES ?

As convulsões são as resultantes físicas e fisiológicas das descargas bio-elétricas nas células nervosas (neurônios), por força de um disparo repentino e excessivo, que causa esta 'tempestade elétrica cerebral' (electrical brainstorm). Ao terminar a tempestade, como na natureza, há um período necessário de repouso, uma pausa, e no caso das células nervosas estarem exaustas, segue-se, às vezes, um período de confusão mental e/ou sonolência.

Há as chamadas convulsões FEBRIS que não devem ser tomadas como indicativo ou prognóstico de epilepsia, pois podem ocorrer com qualquer criança submetida a elevação brusca de sua temperatura corporal, acima dos 39,5 ºC ou menos na dependência do limiar de convulsibilidade de cada criança. São consideradas convulsões BENIGNAS, pois ocorrem em crianças sem histórico de lesão cerebral prévio, e apenas em acompanhamento de enfermidades agudas.

Porém se ocorrerem com crianças com histórico de lesões cerebrais, tipo paralisias cerebrais, há que examinar e acompanhar o desenvolvimento neurológico da mesma, e cuidar para que não tenha elevações bruscas da temperatura corporal devido a febre.


6 - Quais são as principais causas de epilepsias e os fatores desencadeantes de crises epilépticas ?

As principais causas de epilepsias segundo a literatura atualizada e pesquisa na Internet são, em quase 70% dos casos, de "causa desconhecida", sendo que os restantes 30% são ligados às seguintes condições ou situações:
  • Traumas na cabeça, especialmente por acidentes (automóveis, quedas, etc...), ou mesmo lesões causadas por atos violentos, inclusive em práticas esportivas, onde quanto mais severos os golpes ou traumatismos do crânio mais há chances de um quadro epiléptico aparecer.
  • Tumores cerebrais e outros traumas neurológicos
  • Meningites, encefalites virais, lúpus eritematoso, doenças neurológicas crônicas, e infecções que afetem o SNC (Sistema Nervoso Central) como no caso da AIDS (Síndrome de imunodeficiência Adquirida).
  • Lesões ocorridas no período gestacional, pré, peri e pós natais, que possam afetar o desenvolvimento do cérebro de fetos durante a gravidez.

As crises epilépticas em seres humanos são geralmente desencadeadas por alguns eventos:
  • febre
  • exaustão física
  • privação de sono
  • suspensão abrupta de medicação anticonvulsiva
  • respiração forçada (hiperventilação)
  • ingestão de bebidas alcóolicas ou estimulantes
  • uso de drogas euforizantes
  • uso de medicamentos com ação convulsivante (ex.: isoniazida)
  • emoções fortes e distúrbios psíquicos intensos
  • distúrbios hormonais
  • luz, sons e outros ruídos em epilepsias reflexas (ex.: televisão, luz de boite - estroboscópica)


7 - Quais são os principais tipos de epilepsias ?

Atualmente há uma divisão em dois grandes grupos de epilepsias:
  • Generalizadas- que são as que apresentam manifestações clínicas e um EEG (Eletroencefalograma) com indicação de envolvimento de nossos dois hemisférios cerebrais.

  • Parciais - que são as que apresentam achados eletroencefalográficos e manifestações clínicas de um início de crise localizada em um ‘foco’ no nosso cérebro, ou seja uma área específica e identificável pelos exames.

  • As crises generalizadas podem ser subdividas em:

- Mioclônicas
- Clônicas
- Tônico-clônicas
- Atônicas
- Ausências

  • As crises parciais podem ser subdivididas em :

- crises parciais simples (onde não há perda de consciência)
- crises parciais complexas (onde após um início simples com aura e prejuízo da consciência, podendo ocorrer automatismos motores, involuntários e repetitivos)
- crises parciais secundariamente generalizadas

Obs.: Uma informação correta e descritiva do tipo de crise pode ser muito útil na escolha de um tratamento correto, pois há transtornos emocionais e psiquiátricos que podem ser confundidos com epilepsias, com sintoma pseudoepilépticos (como por exemplo em alguns tipos de neurose histérica).


8 - O que são medicamentos antiepilépticos ?

A drogas antiepilépticas (DAE) são os produtos farmacêuticos, alopáticos, produzidos com a finalidade de conter, controlar ou estabilizar um quadro epiléptico. As DAE agem no SNC inibindo ou interferindo em processos neuroquímicos que podem impedir a atividade neuronal anormal ou seu desencadeamento.

Listamos algumas destas substâncias farmacológicas e seus efeitos colaterais (vide quadro) a fim de orientar no acompanhamento de seu uso por parte de familiares e dos próprios usuários.

Atualmente se recomenda evitar o uso de várias DAE para tratar de um quadro epiléptico (politerapia), já que há DAE de uso específico para os mais variados quadros, com bons resultados em termos médicos.

Há que observar o cuidado na experimentação de drogas de ‘última geração’, ou seja recém lançadas no mercado, sem a devida experimentação em seres humanos e sua comprovação de baixos níveis de efeitos colaterais e/ou danos às pessoas, em especial a crianças menores de 3 anos.


9 - As epilepsias tem cura ?

A maior parte dos quadros de epilepsia respondem bem aos tratamentos com as drogas antiepilépticas, e podem ser considerados ‘curados’, após tratamento continuado e sob supervisão especializada. Há porém uma parcela de casos que são considerados refratários aos tratamentos convencionais, e que exigem novos tratamentos ou mais radicais, inclusive cirurgia, ou então a utilização de métodos como a Dieta Cetogênica.


10 - O que é Dieta Cetogênica e quais são os outros tratamentos para as epilepsias de difícil controle ?

É a utilização de uma dieta programada que induz o organismo humano a produzir uma modificação química chamada de ‘cetose.

Este método tem sua utilização comprovada por médicos norte-americanos e de outros países para os casos de epilepsias refratárias a medicação anticonvulsiva. Já foi demonstrado que a produção de corpos cetônicos pode ser induzida por uma dieta rica em gorduras, e muito pobre em carbohidratos e proteínas, o que requer um rigoroso acompanhamento médico e nutricional.

Encontramos no livro: The Epilepsy Treatment (na introduction to The Ketogenic Diet) de Jonh M. Freeman, Millicent T. Kelly e Jennifer B. Freeman (2ª ed- 1996 - Demos Verdane Ed.), alguns dados sobre a remissão e melhora de crises resistentes a DAE, como por exemplo: "a freqüência das convulsões com a dieta, após um (01) mês, foi de remissão total das convulsões em dois pacientes em sete. Apenas um passou a apresentar um episódio diário. Uma criança abandonou a dieta, e três outras tiveram uma marcante diminuição do número de convulsões, necessitando continuar aprimorando a dieta cetogênica".

Há casos extremados e sob severa indicação neurológica que são indicados para tratamentos NEUROCIRÚRGICOS. Estes tratamentos, considerados invasivos, geralmente são utilizados para os quadros epilépticos parciais complexos. E deverão ser realizados diversos exames complementares para definir e confirmar a necessidade deste tipo de procedimento médico. Nem todas as crianças são candidatas a uma neurocirurgia para tratamento de epilepsia, os riscos e benefícios devem ser discutidos aprofundada e seriamente com uma equipe médica competente.

Há ainda experiência de utilização de Marcapassos Cerebrais, que podem ajudar na organização bio-elétrica do SNC, e que necessitam de um monitoramento das suas aplicações.

As epilepsias de difícil controle muitas vezes são chamadas de ‘intratáveis", porém esta é uma visão muito limitada, ao nosso ver, das possibilidades infinitas de novos tratamentos e da pesquisa científica de novos medicamentos para a Epilepsia, que nestas situações quase sempre está associada a um quadro de Paralisia Cerebral, Deficiência Mental ou Síndromes Genéticas raras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário