domingo, 29 de janeiro de 2012

Prevenção

Todos os anos na Irlanda nascem cerca de 100 crianças com espinha bífida ou anencefalia (Defeitos do Tubo Neural - DTN), que poderiam ser evitados simplesmente se suas mães ingerissem um suplemento de ácido fólico nos dois meses anteriores ao início da gravidez.
            Uma vez que os defeitos do tubo neural (DTN) tem o dobro da incidência entre os povos Celtas, não é de se estranhar que cientistas irlandeses tenham realizado algumas importantes descobertas sobre as causas da ocorrência de DTN e a ação do ácido fólico como agente preventivo.
            Liderada pelo Professor John Scott do Departamento de Bioquímica do Trinity College e pelo Doutor Peader Kirke do Conselho de Pesquisa em Saúde, e em cooperação com o Instituto Nacional da Sáude da Criança e Desenvolvimento Humano de Washington (EUA), a pesquisa se baseou em 50 mil amostras de sangue de mulheres grávidas, tendo conseguido explicar 75% dos casos de DTN.
            A primeira peça do quebra-cabeça foi encontrada quando eles verificaram que o risco de um feto desenvolver DTN era maior quando o nível de ácido fólico no organismo era menor. Estava claro, portanto, que a dieta era importante, porém ainda assim não explicava a história toda. Deveria haver uma relação genética, especialmente porque era sabido que os DTN são mais comuns em alguns grupos genéticos do que em outros, independentemente do nível de ácido fólico.
            A peça seguinte do quebra-cabeça foi a descoberta de que mulheres irlandesas que deram à luz crianças com DTN tinham níveis anormalmente altos de um metabólito chamado homocisteína. Isto envolvia três possíveis enzimas, uma das quais era a reductase, cuja importância para o embrião em desenvolvimento é a seguinte: a enzima precisa de ácido fólico para produzir DNA e, se o embrião não pode produzir DNA com rapidez suficiente, ele também não pode dividir as células de modo rápido. Como o tubo neural leva somente 4 dias para fechar, a velocidade da divisão das células é crucial para o desenvolvimento normal do feto.
            Sem ácido fólico (folato) suficiente, as células não conseguem se dividir com a rapidez necessária e, assim, o tubo neural permanece aberto. A extensão da abertura pode variar de ligeira e insignificante a profunda e fatal. Algumas pessoas com DTN só tomam conhecimento disto já na fase adulta , através de uma chapa de raio-x, enquanto outras são tão seriamente afetadas que não chegam a sobreviver.
            Uma quantidade maior de ácido fólico mantém níveis adequados de divisão celular. Desta forma, se o feto que herdou o defeito genético que o impede de metabolizar o ácido fólico receber uma quantidade maciça deste ácido, proveniente da corrente sanguínea da mãe, provavelmente será normal. Caso contrário, é provável que venha a ter um defeito do tubo neural.
            Como o fechamento deste tubo se dá entre o vigésimo quarto (24) e o vigésimo oitavo (28) dia de gravidez, antes de a mulher saber que está grávida, a solução preventiva é a suplementação alimentar , fortificando a dieta de todas as mulheres com ácido fólico e não somente daquelas consideradas de risco.
            O Professor Scott prevê que os governos, inclusive o irlandês, decidirão fortificar a farinha e o pão com ácido fólico, em um esforço de prevenção de DTN. Atualmente, em alguns países os cereais usados no café da manhã e alguns tipos de leite já são enriquecidos.
            O melhor conselho para qualquer mulher que possa engravidar - de maneira planejada ou não - é tomar 400 microgramas de ácido fólico por dia ao longo de sua idade fértil, como suplemento ou em alimentos fortificados.
            Outra descoberta importante da pesquisa é que os pais são quase tão importantes quanto as mães nestes casos. Para que o feto tenha um forte risco de desenvolver DTN, é preciso que herde de ambos, do pai e da mãe, os gens defeituosos. Seis porcento das pessoas herdam a mutação genética que as impede de metabolizar corretamente o ácido fólico, colocando-as, assim, sob o risco de DTN.
            O Professor Scott diz que este importante avanço resultará na identificação de outros gens envolvidos nos chamados DTN que respondem ao ácido fólico (folato). Uma vez que estes são responsáveis por 75% de todos os casos, a maioria dos DTN em breve poderá ser evitada.

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