Secretaria da Educação do Estado nega qualquer ocorrência de discriminação
Amanda Polato, do R7
Amanda Polato/R7
Francisca Vivian Cesário, 29, fala, anda e escreve com dificuldade. Ela tem paralisia cerebral, uma deficiência adquirida durante o nascimento. Apesar de estar apta a assumir turmas de ensino fundamental, diz sofrer preconceito na Escola Estadual João Sussumu Hirata, no bairro Capão Redondo (zona sul de São Paulo). Professora Francisca Cesário diz ser tratada com descaso na escola onde atua
A professora quer processar a direção da escola por assédio moral. Ela relata ter sido tratada como incapaz pela coordenadora pedagógica do colégio, e ter recebido a sugestão de se aposentar, durante uma reunião realizada em março de 2009.
Francisca afirma ainda ser tratada com descaso e ter sido encaminhada várias vezes a perícias médicas.
Susete Figueiredo Cavalin, professora da mesma escola, conta que já acompanhou Francisca à ouvidoria da rede e a uma delegacia de ensino para fazer reclamações:
- A direção da escola entende os apoios que a Francisca pede como privilégios. A professora sofre uma grande pressão psicológica.
Francisca se surpreendeu com a forma como foi tratada na escola:
- Eu esperava sofrer algum preconceito por parte dos pais dos alunos, não dos profissionais da educação.
Pais ouvidos pelo R7 se dizem satisfeitos com o trabalho da professora. Juliana Lopes é mãe de um aluno e comentou sobre os estudos do filho:
- Ele aprendeu a ler e a escrever muito bem, não reclamava de ter dificuldades nas aulas. Sempre que não entendia algo que a professora falava, ela repetia.
O advogado da professora, Luiz Roberto Costa Russo, afirma que está reunindo provas e testemunhas para abrir uma ação civil contra a diretora por assédio moral e preconceito.
Ele também encaminhou documentos sobre esse caso para o Ministério Público do Estado de São Paulo e aguarda resposta sobre abertura de ação penal.
Para a ouvidoria, não há qualquer problema de discriminação. Procurada pessoalmente pela reportagem do R7, a equipe da escola disse que precisaria de autorização da rede para falar sobre o caso.
O colégio se pronunciou por meio da assessoria de imprensa da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, e negou qualquer situação de preconceito. O órgão público não irá falar da abertura dos processos.
Condições de trabalho
Francisca é formada em pedagogia e foi contratada como temporária pela rede estadual em 2008. Ela começou a dar aulas para a a primeira série do ensino fundamental, a única que, por ser uma classe de alfabetização, conta com um professor auxiliar.
No ano seguinte, foi deslocada para a segunda série. A professora diz que a direção da escola prometeu uma assistente para sua turma, o que nunca aconteceu.
A assessoria de imprensa da secretaria informa que não existe nenhuma lei que garanta a presença de professores auxiliares. E, como Francisca foi considerada apta a lecionar, não precisaria de assistente.
A secretaria diz ainda que um kit multimídia foi enviado à escola para ajudar as aulas da professora. No entanto, Francisca conta que recebia o aparelho na classe com atrasos. A situação só mudou quando ela procurou a ouvidoria da secretaria de Educação.
- O que eu quero são condições de trabalho adequadas, com suporte pedagógico e acessibilidade.
Inclusão
Maria Teresa Mantoan, professora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e especialista em inclusão, diz que os profissionais com deficiência precisam sempre deixar muito claro quais são os apoios estritamente necessários para seu trabalho.
É preciso verificar, lembra a especialista, o que o órgão ou empresa onde as pessoas com deficiência atuam preveem de adaptação ou auxílio em cada caso.
- A inclusão não pode ser feita com uma bengala. O profissional precisa ter autonomia para atuar. Mas a sociedade nunca pode oferecer barreiras para que as pessoas exerçam seu trabalho com dignidade.
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