domingo, 25 de dezembro de 2011

1.Maria Figueiredo, mãe da Maria, com oito anos, com trissomia 21

Maria Figueiredo chegou a pensar que a sua segunda filha tinha morrido. No hospital ninguém lhe dizia nada, nem médicos, nem marido. Só muitas horas depois do parto, já numa aflição crescente, Maria foi informada e pode respirar de alívio: "A Micas tinha Síndrome de Down mas pensei: graças a Deus está viva."


.Quando chegou a altura da escola inscreveu as duas filhas num colégio. A matrícula foi recusada. Aceitou o facto como uma incapacidade de resposta da própria escola em lidar com uma criança diferente. Acabou por inscrevê-la num Jardim de Infância público: «Não só aceitaram logo, como diligenciaram as condições para haver uma educadora de ensino especial. Nunca a discriminaram. Antes, coordenavam-se com a terapeuta da fala e seguiam um programa de estimulação com actividades próprias para a Maria. A professora chegou a vir cá a casa para me ensinar a trabalhar com ela».

.Com a entrada para a Primária, Maria acompanhou a irmã e os meninos da sua aula para a nova escola. Mas «Os colegas da Micas, que tinham vindo da outra escola, ficaram juntos. A minha filha e outra menina, também com trissomia 21, tinham sido colocadas noutra sala. Fartei-me de refilar.»

.Mas manteve-a na escola. Apesar de não estar contente com a professora, apesar de só haver uma professora de ensino especial para a escola inteira, apesar da discriminação. Razão? A mãe justifica: «Ela gosta muito dos colegas, está ao pé dos irmãos (entretanto Maria teve outro filho), tem o ATL ali ao lado, a terapeuta da fala também está muito próxima. Está apoiada por muita gente que conhece e com quem se sente muito bem». Maria ainda não sabe ler nem contar e, na escola, não está a ser acompanhada como deveria. A mãe não se mostra preocupada, porque ela tem um enquadramento afectivo por agora prioritário para o seu bem-estar.
. Na primeira vacina, a enfermeira exclamou: «Mas ela é um bocadinho mongolóide!». «Um bocadinho? É toda!», respondeu-lhe. «Esta atitude, vinda de uma enfermeira, é inacreditável».
Desde logo, a questão do acompanhamento. Aos dois meses a Maria começou a fazer natação e, mais tarde, a ser acompanhada pelo CEACF (Centro de Estudos de Apoio à Criança e à Família), um serviço estatal apoiado pela Segurança Social de Lisboa e Vale do Tejo.

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