Sem andar desde 1998 por causa de uma má-formação congênita na medula espinhal, a fonoaudióloga Andrea Schwarz, de 32 anos, sabe bem as dificuldades que um deficiente físico encontra para trabalhar e se divertir. Há oito anos, quando lançou o Guia São Paulo Adaptada, encontrou poucos espaços adequados a pessoas como ela. "Qualquer alteração para receber alguém com deficiência era vista como caridade", diz. Hoje, a situação está melhor. "Ainda não é o ideal, mas houve uma mudança, principalmente nos estabelecimentos privados." Na última segunda, ela e Jaques Haber, seu marido, lançaram o Guia Brasil para Todos, com informações turísticas sobre dez capitais brasileiras. No capítulo dedicado a São Paulo, o casal reúne algumas atrações da cidade e dá dicas de como aproveitá-las. Locais inaugurados recentemente costumam ser mais acessíveis. É o caso do Museu do Futebol, aberto em setembro do ano passado no Estádio do Pacaembu. Consi-derado por Andrea um dos poucos lugares em que os deficientes não enfrentam nenhum problema (veja no quadro outros bons exemplos), o museu tem acesso a todas as salas por elevador, intérpretes da língua brasileira de sinais (Libras) e piso tátil para cegos.
Entre os restaurantes, o casal destacou casas como as do grupo Walter Mancini, no centro, que contam com um serviço de van adaptada para buscar cadeirantes, e a rede Ráscal, que oferece cardápio em braile. "Alguns empresários só se adaptam porque a legislação obriga", afirma Haber. "Mas as pessoas com deficiência formam um público consumidor imenso e, quanto mais acessível o estabelecimento, mais clientes terá." Na apuração, os dois passaram por alguns micos. "Visitei um restaurante em que o banheiro adaptado ficava no 2º piso", conta Andrea. "E o acesso era por uma escada."
A principal dificuldade do 1,5 milhão de paulistanos que sofrem algum tipo de limitação física é a infraestrutura urbana. Dos 15 000 ônibus que circulam pelo município, só 3 166 são adaptados (todos os veículos novos devem, obrigatoriamente, se adequar às normas de acessibilidade). As calçadas também são muito criticadas. Entre janeiro de 2005 e dezembro de 2008, a prefeitura gastou 65,8 milhões de reais para reformar 433 quilômetros de passeio. Isso corresponde a menos de 1,5% do total. "Ainda que todos os ônibus pudessem ser usados pelos cadeirantes, como chegaríamos a eles com essas calçadas?", questiona a vereadora Mara Gabrilli, tetraplégica desde 1994. Segundo o secretário municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida, Marcos Belizário, os avanços são realmente lentos. "Em 500 anos de história, nunca nos preo-cupamos com as pessoas com deficiência", diz. "Mas hoje há dez vezes mais ônibus adaptados que em 2005."
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