Agente de ecoturismo, Agnaldo Dias Quintela, 32 anos, escalou o Pico da Neblina, com 3.014 m, no final do ano passado. Mas conquistar o ponto mais alto do Brasil não o deixou satisfeito, e em seus novos planos está uma escalada no morro do Pão-de-Açúcar. Façanhas que ele realiza apenas com um dos braços e das mãos, pois Agnaldo perdeu os movimentos dos membros do lado esquerdo após um acidente de moto.
Carlos Jorge Wildhagen, um ex-digitador de 38 anos, descobriu na água a sua maior paixão. Atleta que participa de competições de natação, Carlos Jorge gosta mesmo é do contato com o mundo submarino a cinco, 10, 15 metros de profundidade. Com as mãos, ele vê e sente estrelas-do-mar e corais. Cego-surdo, ele se comunica com o mundo dentro e fora d’água através de sinais.
Limitação não significa incapacidade
Exemplos não faltam. Segundo estimativas da Organização das Nações Unidas, 10% da população brasileira é portadora de limitações, sejam elas físicas ou psicofísicas. Para alguns praticantes de esportes de aventura, no entanto, ter alguma deficiência não é empecilho para participar dessas atividades. "Limitação não significa incapacidade", afirma a instrutora de mergulho adaptado Lúcia Sodré, presidente da Sociedade Brasileira de Mergulho Adaptado.
É verdade que, no caso de alguns esportes, como o mergulho, há algumas adaptações. Embaixo d’água, os chamados "cadeirantes" (portadores de limitações físicas como paraplegias), por exemplo, não utilizam nadadeiras. No caso de mergulhadores cegos, é preciso total sintonia com o parceiro, ou dupla, que irá ajudá-lo a ser conduzido durante o mergulho e se comunicará por meio de sinais através de toques.Na prática de escalada, o parceiro também precisa estar em sintonia, afirma Agnaldo. "Meu companheiro de escalada tem que ficar atento, pois utilizo a corda tencionada. E ele tem que saber a hora certa de te ajudar", diz.
Desafiando os limites
Nem mesmo o fato de ter caido sob um fio de alta tensão fez Ranimiro ter perdido a vontade de praticar parapente. Muito pelo contrário, responde. "Tento melhorar cada vez mais e superar dificuldades em alguns momentos, como na decolagem".Para ele, outros esportes também podem ser praticados por quem é portador de alguma limitação. Tanto, que no ano passado passou seis dias no Nepal descendo corredeiras de rios, versão oriental para o tão conhecido rafting.
Já Agnaldo garante que não nunca teve medo de escaladas, começando a praticá-las, mesmo, dois anos depois do acidente. "Antes, eram só ‘escalaminhadas’, caminhadas com alguns trechos onde era necessário utilizar cordas", brinca.Boa cabeça supera os problemas físicos
Seu primeiro desafio, depois de treinamento, o pico Dedo de Deus, com 1.692 m. Sua opinião para quem ainda tem receio: "a coisa é mais simples do que parece. O maior problema, mesmo, está na cabeça da pessoa; quem tem uma boa cabeça supera os problemas físicos".
Para a tradutora Ivana Cordier, 31 anos, paraplégica e mergulhadora, limitação não é incapacidade e praticar esportes faz muito bem, obrigada. "Além de ser muito tranquilizador, traz de volta a auto-estima", explica.
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