sábado, 10 de março de 2012

Portadores de limitações físicas e a prática de esportes de aventura

O modelo Ranimiro Lotufo Neto, 38 anos, não pára. Reveza-se entre o trabalho, os vôos de parapente e a organização de eventos relacionados ao esporte. Brincalhão, Ranimiro perdeu uma das pernas em um acidente durante um pouso, há quatro anos, mas não se importa. Com uma perna mecânica, já fez 122 Km em cross-country e pretende quebrar o recorde brasileiro.
Agente de ecoturismo, Agnaldo Dias Quintela, 32 anos, escalou o Pico da Neblina, com 3.014 m, no final do ano passado. Mas conquistar o ponto mais alto do Brasil não o deixou satisfeito, e em seus novos planos está uma escalada no morro do Pão-de-Açúcar. Façanhas que ele realiza apenas com um dos braços e das mãos, pois Agnaldo perdeu os movimentos dos membros do lado esquerdo após um acidente de moto.

Carlos Jorge Wildhagen, um ex-digitador de 38 anos, descobriu na água a sua maior paixão. Atleta que participa de competições de natação, Carlos Jorge gosta mesmo é do contato com o mundo submarino a cinco, 10, 15 metros de profundidade. Com as mãos, ele vê e sente estrelas-do-mar e corais. Cego-surdo, ele se comunica com o mundo dentro e fora d’água através de sinais.

Limitação não significa incapacidade

Exemplos não faltam. Segundo estimativas da Organização das Nações Unidas, 10% da população brasileira é portadora de limitações, sejam elas físicas ou psicofísicas. Para alguns praticantes de esportes de aventura, no entanto, ter alguma deficiência não é empecilho para participar dessas atividades. "Limitação não significa incapacidade", afirma a instrutora de mergulho adaptado Lúcia Sodré, presidente da Sociedade Brasileira de Mergulho Adaptado.

Aguinaldo escalando o Dedo de DeusÉ verdade que, no caso de alguns esportes, como o mergulho, há algumas adaptações. Embaixo d’água, os chamados "cadeirantes" (portadores de limitações físicas como paraplegias), por exemplo, não utilizam nadadeiras. No caso de mergulhadores cegos, é preciso total sintonia com o parceiro, ou dupla, que irá ajudá-lo a ser conduzido durante o mergulho e se comunicará por meio de sinais através de toques.

Na prática de escalada, o parceiro também precisa estar em sintonia, afirma Agnaldo. "Meu companheiro de escalada tem que ficar atento, pois utilizo a corda tencionada. E ele tem que saber a hora certa de te ajudar", diz.

Desafiando os limites

Ranimiro LotufoNem mesmo o fato de ter caido sob um fio de alta tensão fez Ranimiro ter perdido a vontade de praticar parapente. Muito pelo contrário, responde. "Tento melhorar cada vez mais e superar dificuldades em alguns momentos, como na decolagem".

Para ele, outros esportes também podem ser praticados por quem é portador de alguma limitação. Tanto, que no ano passado passou seis dias no Nepal descendo corredeiras de rios, versão oriental para o tão conhecido rafting.

Ranimiro voando de parapenteJá Agnaldo garante que não nunca teve medo de escaladas, começando a praticá-las, mesmo, dois anos depois do acidente. "Antes, eram só ‘escalaminhadas’, caminhadas com alguns trechos onde era necessário utilizar cordas", brinca.

Boa cabeça supera os problemas físicos

Seu primeiro desafio, depois de treinamento, o pico Dedo de Deus, com 1.692 m. Sua opinião para quem ainda tem receio: "a coisa é mais simples do que parece. O maior problema, mesmo, está na cabeça da pessoa; quem tem uma boa cabeça supera os problemas físicos".

Para a tradutora Ivana Cordier, 31 anos, paraplégica e mergulhadora, limitação não é incapacidade e praticar esportes faz muito bem, obrigada. "Além de ser muito tranquilizador, traz de volta a auto-estima", explica.

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