A jogadora de polo Kristie Hanbury entrou em desespero aos 17 anos, quando recebeu a notícia de que não mexeria mais as pernas e os braços. Ela, porém, não desistiu e, após muito esforço e tratamento, conseguiu superar as dificuldades e hoje vive uma vida normal.
A história da atleta lembra muito a de Luciana. Aos 17 anos, ela também era modelo, sofreu um acidente e ficou tetraplégica, como a personagem. “No início, eu não mexia nada do pescoço para baixo. Um médico chegou a dizer para eu parar de chatear todo mundo porque eu não ia conseguir nem sentar novamente”, lembra.
“Ele disse que eu tive uma ruptura medular e que era impossível, não ia acontecer. Minha resposta para ele foi que eu sentia muito, mas como não tinha nada melhor para fazer, eu ia morrer tentando”, afirmou Kristie, que levou dez anos para conseguir andar sozinha.
Kristie, que foi atingida na cabeça por um portão, lembra do que mais a incomodava. “Uma das coisas mais frustrantes de ficar preso a uma cadeira de rodas é que tudo passa a ser lento. Tudo que você faz é devagar”, descreve. “Então, só o fato de poder ir a qualquer velocidade em cima de um cavalo e ter o vento no rosto, seu cabelo voando, triplica a intensidade do bem-estar de uma pessoa que ficou presa a uma cadeira de rodas em relação a qualquer outra.”
Camila Magalhães passou por drama semelhante e conta como foi receber a notícia de que não mexeriam mais os braços e as pernas. “Eu surtei no CTI [Centro de Terapia Intensiva]. Dizia que era piada, que aquilo não podia estar acontecendo comigo”, lembra Camila Magalhães, tetraplégica há 11 anos.
Camila ficou tetraplégica aos 12 anos, vítima de uma bala perdida. “Na época, os médicos diziam que não teria jeito, eu não voltaria a me movimentar do pescoço para baixo e teria que fazer uma série de adaptações porque eu não conseguiria sentar direito. Acho que foi um dos piores diagnósticos”, diz ela, que hoje está com 23 anos.
A medula liga o cérebro ao corpo. A ordem para mover o braço ou a perna vem do cérebro. “Se lesar em cima, vai atingir os quatro membros. Se lesar mais embaixo, vai atingir predominante as pernas. A partir do momento da ruptura, dificilmente a pessoa vai ficar com os mesmos movimentos de antes”, disse a neurocientista Lúcia Braga. “Mas ela aprende a usar os movimentos que tem para obter qualidade de vida, ser independente, trabalhar, estudar e ser feliz”, explica.
Kristie e Camila queriam mais do que a ciência pode garantir para um tetraplégico e serviram de cobaias para vários tratamentos que ainda estão em fase de testes, fora do Brasil.
“Choques elétricos, terapia passiva, seis horas dentro d’água todo dia, jatos de areia para estimular a circulação, banhos de parafina para condicionar as pernas”, conta Kristie. “Eu participei de uma pesquisa com células-tronco em Portugal. Tive mais percepção do corpo, mais sensibilidade, mais força”, diz Camila.
“Eu consigo dobrar a perna, mas não consigo colocar peso no joelho dobrado. Ao andar, eu levanto um pouco mais um pé até o outro sair do chão. Em seguida, eu desloco o quadril”, explica Kristie. “Talvez hoje os médicos não devam mais dizer que a pessoa não vai voltar a andar. Eu acredito que vou voltar a andar, não tenho dúvida disso”, afirma Camila.
“Quem não participou do problema e não me viu tetraplégica, normalmente diz que não aconteceu. Eu já me expus a médicos. Se quiserem me examinar, estou aqui”, anuncia Kristie.
Kristie está casada, tem cinco filhos, e hoje ajuda pessoas com o mesmo problema através de eventos beneficentes de seu time de polo. Ela manda um recado para as pessoas que vivem hoje o problema que ela viveu aos 17 anos e que a personagem da novela está vivendo: “Por favor, concentrem-se em fazer o que lhes dá prazer, o que lhes dá poder, o que lhes dá capacidade de contribuir. Foquem no que vocês podem fazer e não no que não podem”.
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