Para a pediatra Luci Pfeiffer Miranda, coordenadora do Grupo de Trabalho de Crianças e Adolescentes Especiais da Sociedade Brasileira de Pediatria, as mudanças físicas e hormonais que despertam para a sexualidade estão presentes na criança com deficiência seja qual for sua limitação. “A evolução dessa sexualidade depende da autonomia da criança para explorar seu corpo e das condições oferecidas a ela para se relacionar”, explica Luci. O problema, segundo ela, é que a superproteção de muitos deficientes atinge também o campo sexual. “Muitos são tratados como assexuados. Crescem, mas continuam a ser vistos como bebês. A gente nota isso na forma como são vestidos. Não existe a preocupação de caracterizar a criança como menino ou menina”, aponta Luci.
Dicas para prevenir abuso sexual contra crianças e adultos com deficiência intelectual
O adolescente com deficiência intelectual e sua sexualidade
O psicólogo e educador sexual Fabiano Puhlmann lembra que quanto maior a orientação, mais recursos o deficiente mental terá para expressar seu desejo de forma adequada. “Ele precisa de informação e limites em doses maiores do que as outras crianças, mas isso não significa ter o desejo reprimido. Apenas ouvir mais vezes, por exemplo, que pode se masturbar no quarto sem ninguém ou no banheiro de portas fechadas, e não a qualquer hora e lugar na frente dos outros.” A médica Luci diz que esse reforço é importante, pois o deficiente é dependente de carinho. “Essa criança é presa fácil de abusadores ou até de paixões de curta duração. Por isso, merece um olhar mais atento.”
A criança que não enxerga tem desenvolvimento sexual normal. A diferença é que ela precisa de muita liberdade para descobrir seu corpo, pois é essa exploração que lhe permite sentir as mudanças físicas. “Se ela é reprimida, ficará insegura sobre como é e como os outros a vêem”, diz a pediatra Luci. Os pais devem valorizar as transformações para o filho, indicar que ele está crescendo e conversar sobre como essas mudanças o preparam para a vida sexual. “Os pais não podem tratá-lo como um bobinho. A idéia de que deve ser protegido dos outros é equivocada. A ausência de visão o faz ter percepção mais aguçada do que a nossa para a presença de alguém”, explica a médica.
Amor sem voz
Para a criança surda, o problema maior é a dificuldade de se comunicar. “Desde cedo os pais precisam ajudá-la, menos com palavras e mais com exemplos que a estimulem a construir uma linguagem própria para suas sensações e a identificar os sentimentos dos outros”, explica Nancy Maria Pinto Milani, que trabalha na Associação de Pais e Amigos de Pessoas Portadoras de Deficiência do Banco do Brasil, em Curitiba. Se isso não ocorrer, a criança surda tende a basear sua atração pelas pessoas em aspectos externos. “Ela se envolve com o primeiro que lhe dá atenção e demonstra carinho. Com isso, corre o risco de não ser compreendida, e desenvolve o medo da rejeição. Vai então limitar suas aproximações, procurando em geral outro deficiente auditivo”, diz.
Atração sobre rodas
Com o deficiente físico um parceiro igualmente deficiente não é a preferência ideal. “Por uma questão de bom senso. Imagine duas cadeiras de rodas num motel”, brinca o psicólogo Fabiano Puhlmann, que se tornou paraplégico aos 19 anos e escreveu o livro Revolução Sexual sobre Rodas – Conquistando o Afeto e a Autonomia (Editora O Nome da Rosa, 2000). Segundo ele, nada impede o deficiente físico de ter vida sexual normal. “Com o avanço da medicina e dos recursos tecnológicos de reabilitação, 99% dos casos de lesão medular têm tratamento e permitem sexualidade ativa. Quando isso não existe, é por questões psicológicas”, diz. Ele aponta a atitude de muitos pais, de esconder o filho com deficiência, como responsável pelas barreiras emocionais. “A criança tem de aprender que pode e deve ser vaidosa, fazer qualquer coisa para se sentir bonita. À medida que tiver prazer com seu corpo, terá prazer com o sexo.” A sexualidade é igual para todos. “Cabe à família e à escola valorizar essa questão e orientar a criança deficiente com informação”, resume a psicóloga Susete Figueiredo Bacchereti, orientadora de projetos de educação sexual para deficientes em escolas.
Orientação sexual
- Instituto Beneficente Nosso Lar, São Paulo, % (11) 272-526
- Instituto Kaplan — Centro de Estudos da Sexualidade Humana, com serviço gratuito de orientação sexual pelo % 0800-552533, das 9 às 20 horas, de segunda à sexta-feira, ou pelo site www.sosex.org.br
- Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana, Rio de Janeiro, % (21) 2494-1087/2493-9657; www.sbrash.org.br
- Revolução Sexual sobre Rodas – Conquistando o Afeto e a Autonomia, da Editora O Nome da Rosa, 2000, de Fabiano Puhlmann, R$ 18, a partir de 12 anos, %
Nenhum comentário:
Postar um comentário