domingo, 27 de novembro de 2011

Cresce o número de matrículas de alunos com deficiência no ensino superior

Mesmo com aumento, estudantes com necessidades especiais só representam 0,2% dos universitários do País
A inclusão de pessoas com deficiência em cursos presenciais de graduação aumentou 425% nos últimos nove anos no País. De acordo com dados do último Censo da Educação Superior, divulgado no mês passado, o Brasil alcançou, em 2008, o número de 11.412 portadores de necessidades especiais matriculados em universidades e faculdades.
No entanto, eles representam somente 0,22% dos mais de 5 milhões de universitários. Existem no Brasil mais de 24,6 milhões de portadores de necessidades especiais, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Não há, porém, números exatos sobre quantos estão cursando ou já concluíram o ensino médio e estariam aptos a buscar uma vaga na universidade.O aumento de pessoas com deficiência no ensino superior, segundo educadores está relacionado com as novas políticas de inclusão e com uma maior conscientização promovida por movimentos sociais e organizações não governamentais. "Isso tudo motiva a pessoa com deficiência a ir atrás dos objetivos", diz a presidente da ONG Vez da Voz, Cláudia Cotes.
O Ministério da Educação comemora. "A inclusão está efetivamente se implementando", opina a coordenadora-geral de articulação da política de inclusão com os sistemas de ensino, Sinara Zardo. Apesar do crescimento,
especialistas afirmam que ainda há muito o que ser feito. "O número é muito baixo", diz a vereadora em São Paulo Mara Gabrilli, tetraplégica em decorrência de um acidente. Segundo ela, as políticas inclusivas devem
começar na educação básica. "A lacuna do ensino superior nasce no fundamental”.
De acordo com especialistas, o principal entrave para o aumento da inclusão é a acessibilidade arquitetônica e de comunicação. Prédios mal adaptados e a falta de preparo dos docentes são barreiras frequentes. "A chegada desses estudantes exige que a instituição pense num planejamento quase que individual, e isso é muito trabalhoso", afirma a psicopedagogia da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Liliana Emparan. "Educar é muito mais do que dar acesso ao conteúdo é incluir o indivíduo na sociedade, permitindo que ele frequente a biblioteca e faça um trabalho em grupo”.
Para tentar garantir o acesso de pessoas com deficiência à educação, há uma série de leis e normas no País. Entre elas está o decreto nº 186, de 2008, que ratifica o texto da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os direitos das pessoas com deficiência e afirma que os sistemas educacionais, em todos os níveis, devem ser inclusivos.
OBSTÁCULOS
Estudantes com deficiência relatam que a acessibilidade nas instituições de ensino superior ainda é falha. Sara Bentes, de 27 anos, desistiu da
faculdade de Jornalismo em 2005, no último ano. Ela nasceu com glaucoma e hoje tem menos de 5% da visão. "Só consegui chegar até o sétimo semestre porque tinha ajuda dos colegas e da família”.Segundo Sara, os professores não levavam as provas em arquivo de computador (para ela transformar em áudio por meio de um programa) e, quando faziam, ela tinha que ir sozinha ao laboratório de informática, que normalmente estava trancado. "Tinha que procurar quem estava com a chave. Era eu contra todos”.Outra dificuldade é o próprio mercado de trabalho que, mesmo com a lei de cotas, de 1991, ainda apresenta entraves. "Se eu escrever no currículo que sou”deficiente auditiva com perda profunda", dificilmente o empregador imaginará que escrevo, falo e escuto bem com aparelhos", conta Cristina Bicudo, de 34 anos.
EVOLUÇÃO
2.173 era o número de estudantes com necessidades especiais no ensino superior em 2000 11.412 é o total de alunos com deficiência matriculados em 2008 0,2% é o quanto universitários com necessidades especiais representam do total de matrículas no ensino superior25,6 milhões de pessoas com deficiência vivem no Brasil, segundo o IBGE
Fonte: Estadão

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