André de Almeida Araújo 1
Camila Pinto de Nadai 1
Karine Martins da Trindade 1
Pablo Romero da E. Pinheiro 1
Henrique Douglas Melo Coutinho 2
Camila Pinto de Nadai 1
Karine Martins da Trindade 1
Pablo Romero da E. Pinheiro 1
Henrique Douglas Melo Coutinho 2
1 Discentes – Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte – FMJ;
2 Docente – MSc em Genética - Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte – FMJ - Universidade Regional do Cariri – URCA
2 Docente – MSc em Genética - Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte – FMJ - Universidade Regional do Cariri – URCA
Local onde o trabalho foi realizada: Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte – FMJ
Endereço para contato: Henrique Douglas Melo Coutinho - Universidade Federal da Paraíba – UFPB - Centro de Ciências Exatas e da Natureza – CCEN - Departamento de Sistemática e Ecologia – DSE - Programa de Pós – Graduação em Ciências Biológicas - João Pessoa – PB - CEP 58051-900 - e– mail: hdouglas@zipmail.com.br / h-douglas@bol.com.br
Endereço para contato: Henrique Douglas Melo Coutinho - Universidade Federal da Paraíba – UFPB - Centro de Ciências Exatas e da Natureza – CCEN - Departamento de Sistemática e Ecologia – DSE - Programa de Pós – Graduação em Ciências Biológicas - João Pessoa – PB - CEP 58051-900 - e– mail: hdouglas@zipmail.com.br / h-douglas@bol.com.br
Recebido em 30 de setembro, 2004; aceito para publicação em 23 de novembro, 2004.
RESUMO
A
displasia facio-dígito-genital ou Síndrome de Aarskog é uma síndrome
rara que se transmite de forma recessiva ligada ao cromossomo X.
Apresenta alterações faciais típicas associadas à estatura baixa,
sindactilia, hérnia inguinal e escroto em forma de xale. As
manifestações oculares tomam parte importante no diagnóstico desta
síndrome e com freqüência passam desapercebidas. As mulheres portadoras
sofrem quadros variados e leves desta síndrome. O FGD1, gene responsável
pela displasia facio-dígito-genital, codifica um fator de troca Rho/Rac
da guanina (GEF) que especificamente ativa o p21 GTPase Cdc42.
Palavras-chave: Síndrome de Aarskog; FGD1; escroto em xale
ABSTRACT
The facio-digito-genital dysplasia or Aarskog Syndrome is an infrequent
disorder with a recessive X-linked inheritance. This syndrome is
characterized by tipical facial anomalies associated with
disproportionately short height, syndactilia, inguinal hernia and shawl
scrotum. The ophthalmological features are very important in the
diagnosis of this disorder and frequently are not recognized by the
physician. The women suffer variable grades and weigh of the syndrome.
FGD1, the gene responsible for inherited disease faciogenital dysplasia,
encodes a guanine exchange factor Rho/Rac (GEF) that specifically
activates the p21 GTPase Cdc42.
Keywords: Aarskog syndrome; FGD1; shawl scrotum
INTRODUÇÃO
Em
1970, Aarskog descreveu uma síndrome associando baixa estatura com
alterações de mãos e pés, acompanhada de fácies típicas e anomalias
genital. A síndrome é uma herança recessiva ligada ao cromossomo X, com
expressão variável nas mães dos afetados. Recentemente, o termo síndrome
“facio-digito-genital” tem sido utilizado. As características
principais são: baixa estatura, rosto redondo em crianças e triangular
em adultos, ponte nasal baixa com narinas antivertidas, filtro nasal
longo, alteração de bolsa escrotal e braquidactilia 7. Também está
presente, sindactilia, criptorquidia, hérnia inguinal e escroto em xale
10.
Atualmente
se sabe que o gene FGD1 é o responsável pela Síndrome de Aarskog ou
displasia facio-genital, uma doença de desenvolvimento multissistêmica
que afeta o esqueleto e o sistema urogenital 11.
Tal
gene foi isolado devido a uma translocação recíproca (X;8) em uma
mulher e seu filho, que mostraram um quadro clínico completo para esta
síndrome. Este gene está localizado no cromossomo X p11.21, consta de
4.266pb e codifica para uma proteína de 961 aminoácidos. Contém uma
região rica em prolina, um domínio tipo dedo de zinco e três regiões
estruturalmente conservadas que mostram uma alta homologia com a família
de proteínas Rho/Rac, relacionadas com os produtos dos oncogenes Ras,
envolvido com o crescimento dos mamíferos, no qual sugere o porquê da
falta de crescimento, segmentos desproporcionais e características
faciais 5.
ETIOLOGIA
A
etiologia da Síndrome de Aarskog se deve a um defeito no gene FGD1 que
se encontra no cromossomo X p11.21, o qual codifica uma proteína de 961
aminoácidos envolvida no desenvolvimento dos mamíferos10.
Os
avanços tecnológicos na biologia molecular têm permitido a
caracterização de um grande número de genes, o que contribui para
estabelecer uma relação entre o defeito básico e o quadro clínico de
muitas enfermidades. Especificamente falando das enfermidades recessivas
ligadas ao cromossomo X, é de grande importância contar com parâmetros
clínicos para determinar o estado de portador de genes deletérios para
fins de aconselhamento genético. Na Síndrome de Aarskog, é possível
determinar mediante os dados clínicos o estado de portador, sempre que
se realiza uma exploração física detalhada com base no fenótipo dos
familiares afetados 5.
As
manifestações clínicas de menor expressividade em pacientes
hemizigóticos do sexo feminino podem ser explicadas pela teoria de Lyon,
a qual relata que mulheres que têm dois cromossomos X inativa um desses
cromossomos logo no início da vida embrionária. Tal inativação é
aleatória, podendo ser inativado o cromossomo X de origem paterna como o
cromossomo X de origem materna. A inativação maior ou menor do
cromossomo X portador do gene para a Síndrome de Aarskog é que seria
responsável pela maior ou menor expressividade do quadro clínico nas
mulheres 7,1.
BIOLOGIA MOLECULAR
O
gene FGD1 é composto de 18 éxons que variam de tamanho e ocupam cerca
de 51kb do DNA genômico8. Este gene codifica para um fator de troca
Rho/Rac da guanina (GEF) para o p21 GTPase Cdc42, um análogo do Rho
(homologia de Ras) da família das proteínas de GTPase. RhoGEFs ativam
Rho GTPase catalisando a troca de GDP para GTP. A Rho, proteína da
família dos mamíferos, consiste de pelo menos 10 proteínas distintas e
três subfamílias principais: Cdc42, Rac e Rho cada uma tem pelo menos
50% de homologia com quaisquer um dos outros e 30% de homologia com Ras.
Juntas, estas proteínas regulam diversos processos celulares inclusive a
organização do citoesqueleto de actina, transporte vesicular,
progressão da duplicação celular e o regulamento da transcrição da
expressão do gene 3,4.
Rho
GTPases fazem um papel crítico no regulamento do citoesqueleto de
actina em uma grande variedade de células de Eucarioto. Rho regula o
conjunto de filamentos de actina-miosina contráteis (fibras de tensão) e
complexo de adesão local e Rac controla o conjunto de actina à
periferia das células. Em contraste, Cdc42 regula o conjunto de
filopodia. Ativado o Cdc42, FGD1 estimula fibroblastos a formar
filopodia, elementos do citoesqueleto envolvidos na sinalização celular,
adesão e migração. Por Cdc42, FGD1 também ativa o c-Jun quinase
N-terminal (JNK) sinalizando a cascata e estimula a passagem de
fibroblastos pela fase de G1 do ciclo celular 3,4. Estes dados indicam
que FGD1 é um Cdc42GEF específico e que sua desregulação sugere um
mecanismo através do qual as anomalias do crescimento observadas na
Síndrome de Aarskog são produzidas 6.
QUADRO CLÍNICO
A
Síndrome de Aarskog tem uma clínica bem definida, afetando,
principalmente, a face, as mãos e as genitálias, podendo ser, também,
denominada de displasia facio-digito-genital 2. Os exames clínicos
caracterizam estatura baixa ou moderada.
Na
literatura, as características faciais em ordem de freqüência são:
hipertelorismo ocular, narinas antivertidas, ponte nasal baixa, filtro
largo, anomalias auriculares, cabelo em pico de viúva (ponta de cabelo
que cresce na linha média da margem superior anterior do couro
cabeludo), ptose palpebral e hipoplasia maxilar 5.
A
malformação genital típica é um dobramento escrotal que se estende
dorsalmente rodeando a base do pênis (escroto em xale), e em menor
freqüência nota-se criptorquidia e hipoplasia renal. As mãos e os pés
são tortos com moderada sindactilia cutânea e discreta hipemobilidade
das articulações metacarpofalângicas 5.
Do
ponto de vista oftalmológico, os afetados apresentam múltiplas
alterações. As mais significativas são hipertelorismo e fissura
palpebral antimongolóide, existem outras menos evidentes como
estrabismo, ambliopia e astigmatismo 10. Em relação ao desempenho
mental, apresenta deficiência leve a moderada (32%). Nos homens normais,
uma inteligência normal é comum. São usuais a hiperatividade e o
déficit de atenção, particularmente nos subnormais 6.
Outras
características clínicas apresentadas sobre esta síndrome estão no
nível de membros, como: braquidactilia com clinodactilia do quinto
quirodáctilo, prega siamesca, polegares largos e pododáctilos grandes.
Ao nível de tórax: pectus excavatum discreto e ao nível de abdômen:
cicatriz umbilical proeminente e hérnias inguinais 6.
Os
indivíduos afetados apresentam no nível bucal alterações como:
hipodontia, erupção dentária retardada, incisivos superiores centrais
largos (dentição permanente) e problemas ortodônticos. No esqueleto
nota-se escoliose, cúbito valgo, pododáctilos afastados com contas
bulbosas e adução do metatarso 6.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
É
conhecido que a Síndrome de Aarskog possui uma grande variabilidade de
expressão e compartilha diversas manifestações fenotípicas com outras
condições genéticas, incluindo a Síndrome de Noonan 9. Deve-se,
portanto, fazer diagnóstico diferencial entre a Síndrome de Aarskog e a
Síndrome de Noonan. Pacientes com esta síndrome freqüentemente
apresentam alterações cardiovasculares, pescoço alado, linfedema,
retardo mental e estenose pulmonar, que são sinais não encontrados na
Síndrome de Aarskog 7.
Existe,
também, diagnóstico diferencial entre a Síndrome de Aarskog e a
Síndrome de Robinow que é caracterizada por apresentar uma face que
recorda um rosto de um feto com 8 semanas, com pálpebras em forma de ‘S’
e micropenia ou pênis ausente que o diferencia da Síndrome de Aarskog,
além de ausência de escroto em xale 2.
ACONSELHAMENTO GENÉTICO
Seria
útil lembrar que pacientes com baixa estatura, ou mesmo nanismo
acompanhado de múltiplos sinais disgenéticos, sejam de rotina
encaminhados, inicialmente, ao geneticista. Além de ele ser o
especialista capaz de permitir um diagnóstico sindrômico, oferece
aconselhamento genético e orienta adequadamente a solicitação de exames
complementares, auxiliando, também, na orientação terapêutica 7. Nos
exames complementares, o cariótipo não se faz necessário. Lembramos que o
prognóstico de pacientes com Síndrome de Aarskog inclui uma expectativa
de vida normal 2.
REFERÊNCIAS:
1. Aracena M, Mena M, Selman E. Síndrome de Aarskog. Rev. Chil. Pediatr. 1994, 65(2):132 – 133.
2.
Chacon EF, Guedez, OM, Mena, SG, Martinez, C. Síndrome de Aarskog
(Síndrome Facio – Dígito – Genital) Primer Caso en Venezuela. Archivos
Venezolanos Puericultura Y Pediatria. 1984; 47(3-4):103-107.
3. Estrada L, Caron E, Gorski J. Fgd1, the Cdc 42 guanine nucleotide
exchange factor responsible for facio genital dysplasia, is localized to
the subcortical actin cytoskeleton and golgi membrane. Human Molecular
Genetics. 2001; 10(5):485 – 495.
4. Gao J, Estrada L, Cho S, Ellis RE, Gorski JL. The Caenorhabditis
elegans homolog of FGD1, the human Cdc 42 GEF gene responsible for
faciogenital dysplasia, is critical for excretory cell morphogenesis.
Human Molecular Genetics. 2001; 10(26):3049 – 3062.
5. Guizar-Vázquez JJ, Hernández RDU, de la Rosa GZ, Gómez FS.
Diagnóstico clínico de portadoras del Síndrome de Aarskog-Scott. A
propósito de três famílias mexicanas. Bol Méd Hosp Infant Mex. 1997;
54(2):71-75.
6. Jones KL. Smith: Padrões Reconhecíveis de Malformações Congênitas. 5º ed. São Paulo: Manole Ltda, 1998.
7. Kiota MM, Gollop TR. Síndrome de Aarskog. Pediatria Moderna. 1986; 21(1):13-16.
8. Pasteris NG, Buckler J, Cadle AB, Gorski JL. Genomic Organization of
the Faciogenital dysplasia (FGD1; Aarskog Syndrome) gene. Genomics.
1997; 43(3):390-394.
9. Sepulveda W, Dezerega V, Horvath E, Aracena M. Prenatal Sonographic
Diagnosis of Aarskog Syndrome. J Ultrasound med. 1999; 18(10):707-710.
10. Servín-Yubero P, Regil PG, Ortiz MR; Almaraz MR. Síndrome de Brown
en Síndrome de Aarskog. Rev. Mex. Oftalmol. 1999; 73(1):23-27.
11. Suzuki N, Buechner M, Nishiwaki K et al. A putative GDP-GTP
exchange factor is required for development of the excretory cell in
Caenorhabditis elegans. European Molecular Biology Organization. 2001;
2(6):330-535.
Nenhum comentário:
Postar um comentário