sábado, 23 de março de 2013

Trecho de Uma Vida sem Limites, de Nick Vujicic

OBS: Este é um trecho de um livro chamado "Uma Vida sem Limites", que estou lendo e adorando, resolvi postar esse artigo a fim de compartilhar com vocês essa inesquecível lição de vida, mas essa postagem que eu colocarei em alguns trechos eu ainda não li, sendo tirado de outro site. Boa leitura!!!

Um dos meus vídeos mais populares e acessados do YouTube é uma filmagem em que sou protagonista: ando de skate, surfo, toco instrumentos musicais, dou uma tacada de golfe, caio e me levanto, converso com plateias e, o melhor de tudo, recebo abraços de todo tipo de pessoas sensacionais.
No fim das contas, essas são atividades rotineiras, coisas que praticamente qualquer pessoa pode fazer, certo? Então por que razão esse vídeo já foi visto milhões de vezes? Minha teoria a respeito do interesse das pessoas pelo vídeo é a seguinte: apesar das minhas limitações físicas, vivo como se não tivesse limites.
Quase sempre as pessoas esperam que alguém que tenha uma grave deficiência seja uma criatura inativa, talvez furiosa, introvertida, excessivamente tímida ou quieta. Gosto de surpreendê-las mostrando que levo uma vida aventureira e cheia de realizações.
Entre as centenas de comentários a respeito desse vídeo, eis um que é típico: “Ver que um cara como você é tão feliz me faz parar para pensar por que às vezes sinto pena de mim mesmo… sinto que não sou muito bonito nem muito engraçado, ou sei lá. Como posso ter pensamentos desse tipo quando esse rapaz não tem braços nem pernas e ainda assim é feliz!?”
Ouço sempre a mesma pergunta:
— Nick, como você pode ser tão feliz? Talvez você lide com suas próprias adversidades, então vou dar uma resposta curta e grossa, logo de cara.
Encontrei a felicidade quando entendi que, por mais imperfeito que eu seja, sou o perfeito Nick Vujicic. Sou uma obra de Deus, criado de acordo com o plano que Ele designou para mim. Isso não é o mesmo que dizer que não há espaço para aperfeiçoamento. Sempre tento melhorar, para que, assim, possa servir melhor a Ele e ao mundo!
Acredito do fundo do coração que a minha vida não tem limites. Quero que sinta a mesma coisa em relação à sua vida, quaisquer que sejam seus problemas. Agora que iniciamos a nossa jornada juntos, por favor, reserve alguns minutos para pensar nas limitações que você mesmo impôs à sua vida, ou que permitiu que outras pessoas impusessem. Agora pense em como seria se você se visse livre dessas limitações. Como seria a sua vida se tudo fosse possível?
Oficialmente sou deficiente, mas na realidade a ausência de braços e pernas me deixou bastante eficiente. Meus problemas físicos me propiciaram incríveis oportunidades de conhecer pessoas necessitadas e entrar na vida delas! Então, imagine só o que você pode fazer!
Muitas vezes acabamos nos convencendo de que não somos suficientemente bonitos ou não somos inteligentes o bastante. Acreditamos no que os outros dizem sobre nós, ou impomos restrições à própria existência. O pior é que, quando você se considera indigno, cria obstáculos ao que Deus poderia fazer por meio de você!
Quando você desiste de seus sonhos, coloca Deus dentro de uma caixa. Afinal, você é criação Dele. Ele o criou por um motivo, com um propósito. Portanto, sua vida não pode ser limitada, assim como é impossível refrear o amor de Deus.
Tenho a chance de escolher. Você tem a chance de escolher. Podemos optar por ser indivíduos que dão importância apenas às decepções e insistem em enfatizar as falhas e deficiências. Podemos decidir ser pessoas amargas, raivosas ou tristes. Ou, ao contrário, quando tivermos de encarar períodos difíceis e lidar com pessoas daninhas, podemos optar por aprender com a experiência e seguir em frente, assumindo a responsabilidade por nossa própria felicidade.
Por ser filho de Deus, você é bonito e precioso, e vale mais do que todos os diamantes do mundo. Somos perfeitamente adequados para cumprirmos nossos propósitos! Mesmo assim, nosso objetivo deve ser sempre o de nos tornarmos ainda melhores, forçando nossos limites, ampliando horizontes, sonhando alto. Ao longo do caminho são necessários ajustes, porque a vida nem sempre é um mar de rosas, mas sempre vale a pena ser vivida. Estou aqui para dizer que, sejam quais forem as circunstâncias, enquanto você estiver respirando, tem uma contribuição a dar.
Não posso colocar a mão sobre seu ombro para tranquilizá-lo e renovar a sua confiança, mas posso falar do fundo do coração. Por mais desesperada que a sua vida possa parecer, existe esperança. Por piores que sejam as circunstâncias, dias melhores virão. Não importa que a sua situação pareça medonha: você pode se esforçar para enfrentá-la. Apenas desejar a mudança não vai mudar nada. Tomar a decisão e agir imediatamente vai mudar tudo!
Todos os eventos conspiram para o bem. Tenho certeza disso porque aconteceu comigo. Uma vida sem braços e pernas pode ser boa? Só de olhar para mim as pessoas podem ver que encarei e superei muitas dificuldades e muitos empecilhos. Isso faz com que se sintam dispostas a me ouvir como fonte de inspiração e permite que compartilhe com elas a minha fé, que lhes diga que são amadas e que eu lhes dê esperança.
Essa é a minha contribuição. É importante reconhecer seu próprio valor. Saber que tem uma contribuição a fazer. Se neste momento você está se sentindo frustrado, tudo bem. Seu senso de frustração significa que você quer mais do que teve até agora e é bom. Muitas vezes são os obstáculos que nos mostram quem realmente estamos destinados a ser.
UMA VIDA DE VALOR
Levei bastante tempo para reconhecer os benefícios das circunstâncias em que nasci. Minha mãe tinha 25 anos quando engravidou, eu seria seu primeiro filho. Trabalhava como parteira e enfermeira pediátrica e era encarregada de uma sala de parto onde cuidava de centenas de mães e seus recém-nascidos. Quando ficou grávida, ela sabia o que fazer. Seguiu dieta, evitou remédios, não consumiu álcool, nem aspirina nem outros analgésicos. Consultou-se com os melhores médicos e eles garantiram que tudo ia muito bem.
Mesmo assim, minha mãe continuou apreensiva. À medida que foi se aproximando a data do parto, em várias ocasiões manifestou para meu pai sua preocupação:
— Espero que esteja tudo bem com o bebê.
Durante a gravidez, os médicos fizeram dois ultrassons, e nada de estranho foi detectado. Disseram a meus pais que o bebê era um menino, mas nenhuma palavra sobre a ausência de braços e pernas! Assim que nasci, no dia 4 de dezembro de 1982, não deixaram que minha mãe me visse, e a pergunta que ela fez a um dos médicos foi:— Tudo bem com o bebê?
Silêncio. À medida que os segundos passavam e a equipe médica não me colocava nos braços dela, minha mãe sentiu que havia algo errado. Em vez de me entregarem a ela — como seria normal —, as enfermeiras chamaram um pediatra e foram para o canto oposto do quarto, onde ficaram me examinando e conferenciando aos sussurros. Quando minha mãe ouviu um grito agudo e saudável de bebê, ficou aliviada. Mas meu pai, que durante o parto tinha notado que eu nascera sem um dos braços, passou mal e foi levado para fora da sala de parto.
Chocados diante da visão do meu corpo, médicos e enfermeiras rapidamente me embrulharam em panos.
Minha mãe, que tinha participado como enfermeira de centenas de partos, não se deixou enganar. Leu a aflição no rosto da equipe médica e, na mesma hora, soube que havia algo muito errado.
— O que foi? O que há de errado com o meu bebê?
O médico não respondeu de imediato, mas, quando ela insistiu, exigindo uma resposta, a única explicação que ele deu foi expressa por um termo especializado.
— Focomelia.
Por causa de sua experiência em enfermagem, ela reconheceu o termo médico como a condição de má-formação congênita em que bebês nascem com os membros pouco desenvolvidos ou até mesmo ausentes.
Enquanto isso, meu pai, atônito, estava lá fora, perguntando a si mesmo se tinha mesmo visto o que achava que vira. Quando o pediatra foi falar com ele, berrou:
— Meu filho não tem braços!
— Na verdade, seu filho não tem nem braços nem pernas — respondeu o médico, da maneira mais sensível que podia.
Meu pai perdeu as forças; suas pernas ficaram bambas, tamanha sua perplexidade e angústia.
Ele desabou sobre a cadeira, momentaneamente incapaz de articular as palavras, mas logo depois entraram em cena seus instintos de proteção. Foi imediatamente conversar com a minha mãe antes que ela me visse, mas, para seu desalento, encontrou-a chorando na cama. A equipe do hospital já tinha lhe dado a notícia. Eles haviam se oferecido para me mostrar a ela, mas minha mãe tinha se recusado a me segurar nos braços e pediu que me levassem para longe.
As enfermeiras choravam, a parteira também e, é claro, eu estava chorando! Por fim, colocaram-me ao lado da minha mãe, ainda embrulhado, e ela achou insuportável aquela visão: seu filhinho sem os braços e as pernas.
— Levem este bebê daqui! Não quero tocar nele nem vê-lo!
Até hoje meu pai lamenta o fato de que a equipe médica não tenha lhe dado tempo de preparar adequadamente a minha mãe. Mais tarde, enquanto ela dormia, ele me visitou no berçário. Ao voltar para o quarto dela, disse:
— Ele é bonito.
Perguntou-lhe se já queria me ver, mas ela, ainda muito abalada, recusou-se. Ele entendeu seus sentimentos.
Em vez de comemorar meu nascimento, meus pais e as pessoas da igreja que frequentavam ficaram de luto.
— Se Deus é um Deus de amor, por que deixaria uma coisa dessas acontecer? — perguntavam-se.
A TRISTEZA DA MINHA MÃE
Fui o primeiro filho dos meus pais. Em qualquer família isso seria ocasião de festa e motivo de grande alegria, mas, quando nasci, ninguém mandou flores para a minha mãe. Isso só serviu para deixá-la ainda mais magoada e aprofundar seu desespero.
Triste e com lágrimas nos olhos, perguntou ao meu pai:
— Será que mereço flores?
— Sinto muito, mas é claro que merece.
Ele foi à floricultura do hospital e, logo depois, voltou para o quarto e presenteou-a com um buquê.
Só fiquei sabendo dessas coisas aos 13 anos de idade, quando comecei a questionar meus pais sobre meu nascimento e a reação inicial deles à minha falta de braços e pernas. Tivera um dia péssimo na escola e, quando relatei minhas agruras à minha mãe, ela chorou comigo. Disse-lhe que estava farto de não ter braços e pernas. Com lágrimas nos olhos, minha mãe me disse que ela e meu pai entederam que Deus tinha um plano para mim e que um dia Ele o revelaria. O tempo passou, e eu continuei fazendo perguntas, às vezes para a minha mãe, às vezes para o meu pai, ora com ambos. Em parte, a minha busca por respostas era curiosidade natural; em parte, era uma reação aos insistentes questionamentos que eu ouvia dos meus curiosos colegas de classe.
No começo, fiquei com um pouco de medo do que meus pais poderiam me dizer, e, uma vez que esse era um tema difícil para eles, não queria colocá- los na berlinda. Em nossas primeiras conversas, minha mãe e meu pai deram respostas cautelosas, com a intenção de me proteger. À medida que fui ficando mais velho e mais insistente, revelaram-me mais detalhes sobre seus sentimentos e temores, porque agora sabiam que eu podia aguentar o tranco. Mesmo assim, quando minha mãe contou que quando nasci não queria me segurar nos braços, foi difícil, para dizer o mínimo. Já era bastante inseguro, mas ouvir que minha mãe não suportava sequer olhar para mim foi… bom, imagine só o que você teria sentido. Fiquei arrasado e me senti rejeitado, mas depois pensei em tudo que eles tinham feito por mim. Já tinham dado inúmeras provas de seu amor. Quando iniciei essas conversas com a minha mãe, já tinha idade suficiente para me colocar no lugar dela. Além de sua própria intuição, durante a gravidez não contou com nenhum outro tipo de alerta e não teve como saber o que aconteceria. Estava apavorada e em estado de choque. Como eu teria reagido nessa situação? Não sei ao certo se lidaria tão bem com isso quanto meus pais. Fiz questão de dizer-lhes isso, e, com o passar do tempo, nossas conversas ficaram cada vez mais profundas.
Fico feliz que tenhamos esperado até que me sentisse seguro, sabendo no fundo do coração que meus pais me amavam.Conversamos muitas vezes e trocamos ideias e impressões, e sua fé me permitiu ver que estava destinado a servir aos propósitos de Deus. Fui uma criança bastante determinada e, na maior parte do tempo, feliz e otimista. Meus professores, os pais de outras crianças e até mesmo muita gente que meus pais sequer conheciam diziam a eles que a minha atitude era muito inspiradora. De minha parte, entendi que, por maiores que fossem os obstáculos da minha vida, muitas pessoas carregavam fardos bem mais pesados que o meu.
Hoje, em minhas viagens pelo mundo afora, vejo situações de inacreditável sofrimento, e isso faz com que me sinta grato por aquilo que tenho e menos propenso a me concentrar apenas no que me falta. Já vi crianças órfãs, paralíticas e com doenças paralisantes e degenerativas, mulheres forçadas a se submeter à escravidão sexual, homens presos porque eram tão pobres que sequer conseguiam pagar suas dívidas.
O sofrimento é universal e inacreditavelmente cruel, mas, mesmo nas piores favelas e depois das mais horríveis tragédias, meu coração se alegrou quando vi pessoas que não apenas sobreviviam mas também prosperavam. Alegria era certamente a última coisa que esperava encontrar em um lugar chamado Cidade do Lixo, a pior favela do Cairo, Egito. O subúrbio de Manshiet Nasser fica espremido entre colinas rochosas. O lamentável apelido, assim como o mau cheiro que inevitavelmente se instalou em toda a região, vem do fato de que a maior parte dos 50 mil residentes tira seu sustento da coleta do lixo. Todos os dias, os homens saem de casa logo cedo, por volta das 4 horas da manhã, em carroças puxadas por jegues, e vão coletar todo o lixo que podem levar para casa. No lar, as mulheres, mães e filhas, separam o que é reciclável de tudo que foi coletado no dia anterior. O lixo orgânico não aproveitável é dado aos porcos que são criados por ali também. Cada centímetro das ruelas é usado para armazenar dejetos, e daí veio a alcunha de Cidade do Lixo. Todos os dias eles vasculham montanhas de dejetos produzidos por uma cidade com 18 milhões de habitantes, na esperança de encontrar objetos para vender, reciclar ou utilizar de alguma forma.
Em meio às ruas atravancadas de chiqueiros e pilhas de lixo fétido, o normal seria esperar um punhado de gente massacrada pelo desespero, mas, quando lá estive, em 2009, encontrei exatamente o contrário. É claro que os catadores de lixo (chamados de zebaleen) levam uma vida dura, mas encontrei ali gente generosa e carinhosa, aparentemente feliz, cheia de fé. No Egito, 90% da população é muçulmana, mas a Cidade do Lixo é a única comunidade majoritariamente cristã: quase 98% dos residentes são cristãos coptas.
Já estive em algumas das favelas mais pobres do mundo, em todos os cantos do planeta. No que diz respeito ao ambiente, a Cidade do Lixo foi um dos lugares mais degradantes que já vi, mas, em relação ao espírito, foi um dos mais acolhedores. Conseguimos acolher quase 150 pessoas dentro de um prédio acanhado que funcionava como igreja local. Quando comecei a falar, fiquei arrebatado pela felicidade que emanava da minha plateia. Estavam simplesmente sorrindo, radiantes. Poucas vezes na minha vida me senti tão abençoado. Agradeci aos céus pelo fato de que, por meio da fé, aquelas pessoas conseguiam superar as vicissitudes das circunstâncias em que viviam, e disse a elas que Jesus tinha mudado a minha vida também.
Conversei com os líderes da igreja sobre a mudança da vida naquele vilarejo graças ao poder de Deus. A esperança daquelas pessoas não estava depositada nesta Terra, mas na eternidade. Nesse ínterim, enquanto estão neste mundo aquelas pessoas acreditam em milagres e agradecem a Deus por quem Ele é e por tudo que Ele faz. Antes de irmos embora, presenteamos algumas famílias com arroz, chá e uma pequena soma em dinheiro, suficiente para que comprassem comida por algumas semanas. Também distribuímos equipamentos esportivos, bolas de futebol e cordas para as crianças. Imediatamente elas convidaram nosso grupo para brincar, e nos divertimos à beça, rindo e saboreando o momento, embora estivéssemos rodeados pela miséria. Jamais me esquecerei daquelas crianças que jogavam bola e pulavam corda, e do sorriso estampado no rosto de cada uma. Aquilo provou mais uma vez que a felicidade pode surgir em qualquer circunstância e situação, desde que depositemos nossa total confiança em Deus.
Como crianças tão pobres podem sorrir? Como presidiários podem cantar com tamanha alegria? Essas pessoas transcendem as adversidades aceitando que certos eventos estão acima de seu controle e também de sua compreensão, e se concentram naquilo em que conseguem acreditar e compreender. Meus pais fizeram exatamente isso. Seguiram em frente no momento em que decidiram acreditar na palavra divina de que “todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”1.
UMA FAMÍLIA DE FÉ
Minha mãe e meu pai nasceram na parte da antiga Iugoslávia, atualmente conhecida como Sérvia, no seio de famílias profundamente cristãs que, por causa da repressão comunista, emigraram para a Austrália. Meus avós eram cristãos apostólicos, e entre os preceitos de sua fé estava o de não pegar em armas. Os comunistas discriminavam e perseguiam os cristãos, que eram obrigados a se reunir em segredo para celebrar seus cultos. E por se recusarem a ingressar no Partido Comunista (que controlava todos os aspectos da vida das pessoas), os cristãos também sofriam do ponto de vista financeiro. Por essa razão, quando meu pai era jovem, chegou muitas vezes a passar fome.
Meus avós maternos e paternos juntaram-se aos milhares de sérvios cristãos que, depois da Segunda Guerra Mundial, emigraram para a Austrália e também para os Estados Unidos e o Canadá, países em que eles e seus filhos e netos poderiam praticar livremente a crença cristã. Mais ou menos nessa mesma época, outros familiares deles também resolveram embarcar para os EUA e o Canadá, razão pela qual tenho muitos parentes também nesses dois países da América do Norte.
Meus pais se conheceram em uma igreja de Melbourne. Minha mãe, Dushka, estava cursando o segundo ano da escola de enfermagem no Royal Children’s Hospital, em Victoria. Meu pai, Bóris, trabalhava em um escritório de administração e contabilidade. Mais tarde tornou-se também pastor leigo. Quando eu tinha mais ou menos 7 anos de idade, cogitaram a ideia de se mudar para os Estados Unidos, onde achavam que seria mais fácil ter acesso a próteses melhores e a uma boa assistência médica, para nos ajudar a lidar com minha deficiência física.
Meu tio Batta Vujicic era dono de uma empresa de construção e administração de imóveis em Agoura Hills, a cerca de 60 quilômetros de Los Angeles. Batta sempre dizia que se meu pai conseguisse um visto de trabalho, teria emprego garantido. Nos arredores de Los Angeles havia uma numerosa comunidade de sérvios cristãos, com várias igrejas, o que também atraía meus pais. Meu pai descobriu que obter um visto de trabalho era um processo lento e demorado. Decidiu dar entrada na papelada, mas, enquanto isso, minha família se mudou para Brisbane, Queensland, 1.600 quilômetros ao norte, onde o clima era melhor para mim, pois eu também sofria de alergias.
Eu tinha cerca de 10 anos de idade e cursava o quarto ano do ensino fundamental quando tudo, por fim, se ajeitou para a nossa mudança rumo aos Estados Unidos. Meus pais acharam que eu e meus dois irmãos mais novos, Aaron e Michelle, já estávamos em uma boa idade para a assimilação do sistema educacional dos EUA. Esperamos dezoito meses em Queensland, até que o visto de três anos do meu pai fosse emitido, e finalmente nos mudamos em 1994.
Infelizmente, a mudança para a Califórnia não correu conforme o planejado, por uma série de razões. Quando deixamos a Austrália, já estava no sexto ano. Minha nova escola de Agoura Hills era superlotada. Só arranjei vaga nas turmas avançadas, que eram bastante difíceis, e, além disso, os programas curriculares eram diferentes. Até então, sempre fora um bom aluno, mas batalhei para me adaptar às novidades. Devido às diferenças de calendário escolar, antes mesmo de começar a estudar na Califórnia eu já estava literalmente atrasado. Tive tremendas dificuldades para acompanhar o ritmo dos outros alunos. Diferentemente do que acontecia na Austrália, na escola em que fui matriculado os alunos tinham de trocar de sala a cada matéria, o que foi um obstáculo adicional à minha adaptação.
Fomos morar com o meu tio Batta, sua esposa Rita e seus seis filhos; por isso, embora vivessem em uma casa enorme em Agoura Hills, o lugar era bastante tumultuado. O plano era nos mudarmos para nossa própria casa o mais rápido possível, mas os preços dos imóveis eram bem mais altos do que na Austrália. Meu pai foi trabalhar na empresa do meu tio, mas minha mãe não deu continuidade à sua carreira de enfermeira, pois sua prioridade era cuidar da nossa adaptação às nossas novas escolas e ao novo ambiente; por isso, nem sequer tinha requerido licença para trabalhar.
Depois de três meses morando com a família do tio Batta, meus pais concluíram que a mudança para os Estados Unidos não estava dando muito certo. Eu enfrentava apuros na escola, e eles tiveram dificuldade para obter a aprovação do meu seguro-saúde e bancar o alto custo de vida na Califórnia. Havia também a preocupação de que jamais conseguíssemos fixar residência permanente nos EUA. Um advogado alertou minha família de que meus problemas físicos poderiam ser um entrave à aprovação, por conta de possíveis dúvidas sobre a capacidade dos meus pais de custearem as despesas médicas relacionadas à minha deficiência.
Com tantos fatores pesando contra, meus pais decidiram voltar para Brisbane depois de apenas quatro meses nos Estados Unidos. Encontraram uma casa na mesma rua sem saída onde tínhamos morado antes da mudança, e, assim, retomamos a convivência com nossos amigos e voltamos a estudar nas mesmas escolas. Meu pai retomou as aulas de computação e administração no Colégio Técnico, e minha mãe dedicou-se a cuidar dos filhos, principalmente de mim.
UMA CRIANÇA NADA FÁCIL
Nos últimos anos, meus pais têm sido bastante sinceros ao descrever os temores e pesadelos de ambos no período imediatamente posterior ao meu nascimento. Durante a minha infância, nunca me deram pistas de que não era exatamente a criança de seus sonhos. Nos meses após minha chegada, minha mãe teve medo de não conseguir sequer olhar para mim. Meu pai não vislumbrava um futuro feliz e se preocupava com o tipo de vida que eu teria. Se era indefeso e incapaz de enfrentar a vida, ele achava que o melhor para mim era ir para junto de Deus. Os dois pesaram na balança suas opções, incluindo a possibilidade de me dar para adoção. Os meus avós (tanto os maternos quanto os paternos) se ofereceram para cuidar de mim. Meus pais recusaram a oferta, e decidiram que era responsabilidade deles me criar e me educar da melhor maneira possível.
Depois do luto inicial, arregaçaram as mangas e iniciaram a tarefa de criar um filho deficiente da maneira mais normal que pudessem. São pessoas de uma fé poderosa e se convenceram de que Deus deve ter tido alguma razão para lhes dar um filho como eu.
Alguns ferimentos se curam mais rápido se você continuar se movimentando. O mesmo vale para os revezes da vida. Talvez você tenha perdido o emprego. Pode ser que seu relacionamento amoroso não esteja dando certo. Talvez as contas estejam se acumulando e você se afunde em dívidas. Não deixe sua vida em estado de suspensão e não se permita dar importância excessiva à injustiça das dores passadas. Em vez disso, procure maneiras de seguir em frente. Talvez haja um emprego melhor à sua espera, um trabalho mais estimulante e mais bem remunerado. Talvez seu relacionamento esteja mesmo precisando de uma boa sacudida, ou quem sabe encontre alguém que seja melhor para você. E talvez seus problemas financeiros o inspirem a encontrar novas e criativas maneiras de economizar dinheiro e prosperar.
Nem sempre podemos controlar o que acontece conosco. Há certos fatos na vida de que não temos culpa e que não temos o poder de impedir.
Você tem duas opções: desistir ou seguir em frente e batalhar por uma vida melhor. Meu conselho é: saiba que tudo acontece por uma razão e que, no fim das contas, tudo sempre resulta em algo bom.
Quando criança, eu simplesmente achava que era um bebê adorável, naturalmente charmoso e a criatura mais amável da face da Terra. A minha bem-aventurada ignorância infantil era uma benção. Não sabia que era diferente ou que teria pela frente um batalhão de dificuldades. Sabem de uma coisa? Acho que a vida só nos dá o que temos condições de suportar. Juro que, para cada deficiência ou defeito que você tem, a vida o abençoou com muitas habilidades e talentos para superar seus obstáculos.
Deus me equipou com uma incrível determinação, bem como outros dons e talentos. Logo dei mostras de que, mesmo sem braços e sem pernas, era atlético e tinha boa coordenação motora. Mesmo que meu corpo fosse apenas um tronco, era também um menino traquinas e intrépido, que adorava rolar e não parava. Aprendi a me colocar em posição vertical ao apoiar minha testa contra a parede e me aprumar. Meus pais passaram horas comigo tentando me ajudar a dominar um método mais confortável, mas sempre insisti em encontrar meu próprio jeito.
Minha mãe tentava me ajudar espalhando almofadas pelo chão para que eu pudesse usá-las como ponto de apoio para me levantar. Por alguma razão, decidi que era melhor simplesmente encostar minha testa na parede e me erguer. Fazer as coisas desse jeito, mesmo que fosse da forma mais difícil, tornou-se minha marca registrada!
Naqueles primeiros dias, usar minha cabeça era a única opção; graças a esse fato, desenvolvi meu gigantesco intelecto (brincadeirinha!), meu pescoço ficou com a força de um touro e minha testa ficou dura e resistente feito uma bala de canhão. Obviamente, meus pais viviam preocupados comigo. A experiência paterna ou materna é chocante mesmo para quem tem um bebezinho cujo corpo tem todas as partes que lhe são próprias. Pais e mães de primeira viagem brincam quando dizem que os primogênitos deviam vir acompanhados de um manual de instruções. No meu caso, nem mesmo no livro do Dr. Spock2 havia um capítulo para crianças como eu. Mesmo assim, fiquei cada vez mais saudável e corajoso. Quando me aproximei dos terríveis 2 anos de idade, despertei nos meus pais mais terrores do que se eles tivessem gerado uma ninhada de óctuplos: Como vai se alimentar? Como vai frequentar a escola? Quem vai cuidar dele se alguma coisa acontecer com a gente? Como vai conseguir viver de maneira independente?
Nossa capacidade humana de usar a razão pode ser uma bênção e uma maldição. Como meus pais, você provavelmente já se inquietou e se preocupou em relação ao futuro. Muitas vezes, porém, seus receios revelam-se bem menos problemáticos do que imaginava. Não é errado olhar para a frente e planejar o futuro, mas saiba que seus piores temores podem culminar em sua melhor surpresa. Muitas vezes a vida conspira para o bem.
Uma das melhores surpresas da minha infância foi aprender a controlar meu pequeno pé, que instintivamente usava para rolar, chutar, impulsionar meu tronco e me apoiar. Meus pais e médicos achavam que o pezinho podia ser de grande utilidade. Nele havia dois dedos, mas, quando nasci, os dois se fundiram em um só. Meus pais e médicos concluíram que uma operação para separar os dois dedos poderia permitir que os usasse como os da mão para agarrar uma caneta, virar uma página e desempenhar outras funções.
Nessa época morávamos em Melbourne, Austrália, que proporcionava a melhor assistência médica do país. De fato, minhas limitações físicas eram um caso sério, um desafio para a maior parte dos profissionais de saúde. Quando os médicos já se preparavam para a cirurgia do pé, minha mãe enfatizou o fato de que eu vivia com febre a maior parte do tempo, e que deveriam prestar atenção especial à possibilidade de que meu corpo ficasse quente demais. Ela conhecia a história de outra criança sem membros cujo corpo havia superaquecido durante uma operação e que, por isso, sofrera uma convulsão cerebral; o resultado foi uma lesão no cérebro.
Minha tendência a ficar com o corpo excessivamente quente deu origem a um ditado familiar: “Quando Nick está frio, os patos devem congelar”. Porém, nem sempre isso é piada: se me exercitar demais, se ficar estressado ou muito tempo sob luzes quentes, a temperatura do meu corpo sobe perigosamente. Preciso estar sempre alerta a fim de evitar que meu corpo derreta.
— Por favor, monitorem cuidadosamente a temperatura dele — pediu minha mãe à equipe médica. Mesmo sabendo que ela era enfermeira, os médicos não a levaram a sério. A operação de separação dos dedos foi bem- sucedida, mas aconteceu o que a minha mãe temia. Saí da sala de cirurgia ensopado, porque não tomaram as devidas precauções para evitar o superaquecimento do meu corpo. Quando perceberam que a minha temperatura estava saindo do controle, tentaram me esfriar com lençóis gelados e também baldes de gelo, para evitar uma convulsão.
Minha mãe ficou furiosa. Sem dúvida os médicos sentiram na pele a ira de Dushka!
Mesmo assim, depois que esfriei a cabeça (literalmente), minha qualidade de vida recebeu um novo impulso, graças aos meus dedinhos recém-libertos do pé. Não funcionavam exatamente como os médicos esperavam, mas me adaptei. É incrível o que um pé diminuto e dois dedos podem fazer por um sujeito sem braços e sem pernas. A operação e novas tecnologias me libertaram, dando-me o poder de operar novas cadeiras de rodas construídas sob medida, um computador e um telefone celular.
Não sei exatamente qual é o fardo que você carrega, tampouco vou fingir que já enfrentei crise semelhante à sua, mas dê só uma olhada no que meus pais passaram quando nasci. Imagine como se sentiram. Pense em como o futuro parecia sombrio.
Talvez neste exato momento você não consiga ver a luz no fim do próprio túnel, mas saiba que meus pais também não conseguiam prever a vida maravilhosa que um dia eu teria. Não faziam ideia de como o filhinho deles não apenas seria autossuficiente e se dedicaria com afinco a uma carreira, mas também seria feliz, com uma vida cheia de alegrias e propósitos!
A maior parte dos temores dos meus pais jamais se materializou. Certamente me criar não foi tarefa das mais fáceis, mas acho que diriam que, apesar dos pesares, tivemos uma boa dose de alegria e felicidade. Minha infância foi surpreendentemente normal, e atormentei bastante meus irmãos, Aaron e Michelle, como fazem todos os irmãos mais velhos!
Neste momento a sua vida pode maltratá-lo. E você talvez se pergunte se algum dia sua sorte vai melhorar. E digo que nem sequer imagina quanta coisa boa está à sua espera. Mantenha o foco em seu sonho. Faça o que for preciso para continuar no encalço dele. Você tem o poder de mudar as circunstâncias. Vá atrás daquilo que deseja, o que quer que seja.
Minha vida é uma aventura que ainda está para ser escrita — a sua também. Comece a escrever o primeiro capítulo agora! Salpique generosas porções de aventura, amor e felicidade. Viva a história enquanto a escreve!
EM BUSCA DE SENTIDO
Admito que, por muito tempo, eu mesmo não acreditei que tivesse algum poder sobre a minha própria história. Lutei para entender que diferença poderia fazer no mundo ou que caminho devia seguir. Estava convencido de que não havia nada de bom em meu corpo incompleto. Claro, jamais tive de me retirar da mesa do jantar por não ter lavado as mãos, e, sim, nunca conheci a dor de estourar o dedão do pé em uma pedra ou na calçada, mas esses poucos benefícios não me pareciam grande consolo.
Meu irmão, minha irmã e meus primos malucos jamais me fizeram sentir pena de mim mesmo. Eles me aceitam como sou e por quem sou, e também me ajudaram a ficar mais forte, graças a brincadeiras e pegadinhas que me fizeram ver graça, e não amargura, na minha situação.
— Olha só aquele menino na cadeira de rodas, é um alienígena! — berravam meus primos no shopping center, apontando para mim. A gente morria de rir ao ver a reação das pessoas, que não faziam ideia de que aquelas crianças tirando sarro de um menino deficiente eram, na verdade, aliadas dele.
Quanto mais velho fiquei, mais compreendi que ser amado assim é uma bênção. Mesmo que de vez em quando se sinta sozinho, tenha em mente que é muito amado, e reconheça que Deus o criou por amor. Portanto, nunca está só. O amor que Ele sente por você é incondicional, sem restrições. Deus não o ama se… Ele o ama sempre. Lembre-se disso quando se sentir invadido por sentimentos de solidão e desespero. Lembre-se de que são apenas sentimentos, sensações. Não são reais, mas o amor de Deus é tão real que, para provar isso, Ele o criou.
É importante ter no coração o amor de Deus, porque haverá ocasiões em que você vai se sentir vulnerável. Mesmo numerosa, nem sempre minha família estava presente para me proteger. Assim que fui para a escola, não havia como esconder o fato de que era diferente de todo mundo. Meu pai me assegurou que Deus não comete erros, mas às vezes não conseguia evitar a sensação de ser a exceção à regra.
— Por que Você não me deu pelo menos um braço? — eu perguntava a Deus. — Pense só no que poderia fazer com um braço!
Tenho certeza de que você já passou por momentos semelhantes, em que rezou pedindo uma mudança radical na sua vida. Não existe razão para entrar em pânico se seu milagre não acontecer, ou se seu desejo não se tornar realidade na mesma hora. Lembre-se: Deus ajuda quem ajuda a si mesmo. Depende de se esforçar para atingir o propósito mais elevado para seus talentos e sonhos no mundo ao seu redor.
Passei tempo demais pensando que, se meu corpo fosse normal, minha vida seria uma moleza. O que não percebia era que eu não precisava ser normal — simplesmente tinha de ser quem sou, o filho do meu pai, que leva a cabo o plano de Deus. No começo não queria encarar o fato de que o que havia de errado comigo não era meu corpo, eram os limites que impunha a mim mesmo e a visão limitada que tinha acerca das possibilidades da minha vida.
Se não está onde queria estar ou se não realizou tudo que espera atingir, o mais provável é que a razão resida não à sua volta, mas dentro de você. Assuma a responsabilidade e, depois, aja. Primeiro deve acreditar em si mesmo e no seu valor. Não pode esperar que os outros descubram seu esconderijo. Não pode ficar parado esperando que aconteça um milagre ou que apareça a oportunidade certa. Você deve pensar em si mesmo como uma colher de pau, e o mundo é seu caldeirão. Mexa a colher. Coragem!
Quando era criança, passei muitas noites rezando para ter braços e pernas. Ia dormir chorando e sonhava que, quando acordasse, meus membros teriam aparecido, por milagre. Obviamente, isso jamais aconteceu. Uma vez que não conseguia me aceitar, no dia seguinte ia para a escola e, como resultado, descobria que era muito difícil obter a aceitação dos outros.
Como acontece com a maioria das crianças, minha fase mais vulnerável foi a pré-adolescência, período em que todos tentam se encaixar e descobrir quem são e o que o futuro lhes reserva. Muitas vezes as pessoas que me magoavam não tinham a intenção de ser cruéis, apenas eram crianças insensíveis e sem noção.
— Por que não tem braços nem pernas? — perguntavam-me.
Meu desejo de me adequar e ser aceito era igual ao de qualquer um dos meus colegas de classe. Nos dias bons, conquistava a simpatia deles com a minha inteligência, minha disposição para tirar sarro de mim mesmo e meu ânimo para impulsionar meu corpo e brincar no pátio ou no playground; nos dias ruins, escondia-me atrás dos arbustos ou em salas de aula vazias para evitar que alguém me magoasse ou zombasse de mim. Parte do problema era que eu passava mais tempo com adultos e primos mais velhos do que com crianças da minha idade. Tinha uma perspectiva mais madura, e meus pensamentos mais sério e, às vezes, me levavam a lugares sombrios.
Nenhuma garota jamais vai se apaixonar por mim. Nem tenho braços para abraçar uma namorada. Se tiver filhos, jamais vou conseguir segurá-los nos braços. Que tipo de emprego vou arranjar? Quem vai querer me contratar? Vão ter de contratar uma segunda pessoa para fazer o que eu devia fazer? Quem vai pensar em empregar uma pessoa pelo preço de duas?
Minhas dificuldades eram físicas, mas era óbvio que me afetavam emocionalmente também. Ainda muito jovem, passei por um período de depressão bastante assustador. Então, para minha eterna surpresa e gratidão, entrei na adolescência, e gradualmente encontrei aceitação: primeiro a minha própria; depois a de outras pessoas.
Todo mundo passa por fases e situações em que se sente excluído, malquisto e mal-amado. Todos temos as nossas inseguranças. Muitas crianças têm medo de ser alvo de ridicularização por terem o nariz muito grande ou os cabelos encaracolados demais. Os adultos têm receio de não conseguir pagar suas contas e de não viver à altura de suas expectativas.
Você vai enfrentar momentos de dúvida e medo. Todos nós sentimos isso. É natural sentir-se desanimado ou deprimido, isso faz parte da condição de um ser humano normal. Esses sentimentos só são um perigo se permitir que as coisas negativas fiquem na sua cabeça e tomem conta de você.
Quando acreditar de verdade que foi agraciado com bênçãos — talentos, inteligência e amor — que pode compartilhar com outras pessoas, você vai começar sua jornada de autoaceitação, mesmo que seus dons ainda não sejam evidentes. Assim que der o primeiro passo de sua jornada, outras pessoas caminharão com você.
FALANDO EM ALTO E BOM SOM
Encontrei o caminho para meu verdadeiro propósito enquanto tentava me aproximar dos meus colegas de escola. Se você já passou pela experiência de ser a criança nova no pedaço, que almoça sozinho no canto, tenho certeza de que vai entender que é ainda mais difícil ser a criança nova no pedaço em uma cadeira de rodas. Nossas mudanças de Melbourne para Brisbane, dali para os Estados Unidos e de volta a Brisbane me obrigaram a fazer adaptações que se somaram às dificuldades que eu já tinha de enfrentar.
Meus novos colegas de classe supunham que, por eu ter uma deficiência física, também fosse mentalmente deficiente. Em geral, mantinham distância de mim até criar coragem para estabelecer uma conversa com eles no refeitório ou corredor. Quanto mais puxava assunto, mais eles aceitavam que, na verdade, eu não era um extraterrestre que tinha caído de uma nave espacial.
Sabe de uma coisa? Às vezes Deus espera que você dê uma ajudinha com o trabalho pesado. Você pode ter desejos, esperança e sonhos. Mas também deve se mexer e agir para realizá-los. Deve se esforçar para ir além dos seus limites a fim de chegar ao lugar em que deseja estar. Queria que as pessoas da minha escola soubessem que, por dentro, eu era igualzinho a elas, mas, para fazer isso, tive de sair da minha zona de conforto. E a tentativa de me aproximar delas trouxe resultados sensacionais.
Com o tempo, essas conversas com meus colegas sobre como enfrentar um mundo feito para dois braços e duas pernas levaram a convites para falar a grupos de estudantes, grupos de jovens nas igrejas e outras organizações de adolescentes. Há uma verdade maravilhosa que é crucial na vida. Acho extraordinário que as escolas não ensinem isso. A verdade essencial é a seguinte: cada um de nós tem um dom — um talento, uma habilidade, uma aptidão — que nos dá prazer e nos cativa, e o caminho para a felicidade muitas vezes está nesse dom.
Se você ainda procura qual é a sua aptidão, se ainda imagina qual é o seu lugar e o que o deixa você realizado, sugiro que faça uma autoavaliação. Sente-se com papel e caneta, ou diante do computador, e elabore uma lista das suas atividades favoritas. Quais são as coisas que mais despertam seu interesse e mais o atraem? O que gosta de fazer, a ponto de perder a noção de tempo e espaço, e mesmo assim jamais se cansa? Agora, o que as outras pessoas veem em você? Elas elogiam seu talento para a organização ou suas habilidades analíticas? Se ainda não tem certeza do que os outros admiram em você, pergunte a seus familiares e amigos.
Essas são as dicas para que encontre seu caminho na vida, que está guardado em segredo dentro de você. Todos chegamos a este mundo nus e cheios de promessas e esperanças. E chegamos aqui abarrotados de presentes que esperam para ser abertos. Quando encontrar algo que o cative e fascine tanto que faria de graça o dia inteiro e todo santo dia, então você está no caminho certo. Quando encontrar alguém disposto a pagar-lhe para realizar o que gosta de fazer, aí achou uma carreira.
No início, as minhas conversas informais com outros jovens eram uma maneira de me aproximar deles, criar um vínculo. Concentrei-me em dizer o que havia dentro de mim, agradecido pela oportunidade de compartilhar meu mundo e estabelecer contato com as pessoas. Sabia o que o ato de falar fazia por mim, mas demorei a perceber que as coisas que tinha a dizer podiam afetar as pessoas.
ENCONTRANDO UM CAMINHO
Um dia discursei para um grupo de 300 adolescentes, provavelmente a plateia mais numerosa que já tivera. Compartilhava com eles meus sentimentos e minha fé quando algo maravilhoso aconteceu. De vez em quando, estudantes e professores vão às lágrimas quando conto as dificuldades que enfrento, mas, durante essa palestra específica, uma menina da plateia começou a soluçar. Não sei ao certo o que aconteceu — talvez eu tenha tocado em alguma tecla sensível e suscitado alguma lembrança terrível. Fiquei espantado quando ela teve a coragem de levantar a mão e pedir a palavra, apesar da tristeza e das lágrimas. Bravamente, perguntou se podia ir até o palco e me abraçou. Uau! Fiquei perplexo.
Convidei-a para subir ao palco. Ela enxugou as lágrimas enquanto caminhava na minha direção, e, então, deu-me um forte abraço, um dos melhores da minha vida. A essa altura, todo mundo estava com os olhos rasos de água, inclusive eu. Mas perdi de vez o controle quando sussurrou o seguinte ao meu ouvido:
Convidei-a para subir ao palco. Ela enxugou as lágrimas enquanto caminhava na minha direção, e, então, deu-me um forte abraço, um dos melhores da minha vida. A essa altura, todo mundo estava com os olhos rasos de água, inclusive eu. Mas perdi de vez o controle quando sussurrou o seguinte ao meu ouvido:
— Ninguém jamais me disse que sou bonita do jeito que sou. Ninguém jamais disse que me amava. Você mudou a minha vida, e também é uma pessoa bonita.
Até aquele momento ainda questionava meu próprio valor. Eu me via como alguém que simplesmente dava palestras despretensiosas como um modo de me entrosar com outros adolescentes. Em primeiro lugar, ela disse que eu era bonito (o que não doeu nada), mas, acima de tudo, deu-me a primeira noção de que a minha fala podia ajudar outras pessoas. Ela mudou a minha perspectiva, o meu modo de ver as coisas. “Ei, talvez possa mesmo contribuir com alguma coisa”, pensei.
Experiências como essa me ajudaram a entender que ser “diferente” podia me ajudar a contribuir com algo especial para o mundo. Descobri que as pessoas estavam dispostas e me dar ouvidos porque bastava olhar para mim para perceber que tinha superado minhas adversidades. A mim não faltava credibilidade. Instintivamente as pessoas sentiam que eu tinha algo a dizer que poderia ajudá-las a lidar com seus próprios problemas.
Deus me usou para chegar às pessoas em incontáveis escolas, igrejas, presídios, orfanatos, hospitais, estádios e auditórios. Melhor ainda, abracei milhares de pessoas em encontros cara a cara, que me permitiram dizer pessoalmente o quanto são preciosas. Sinto enorme prazer em garantir às pessoas que Deus tem um plano para a vida delas. Ele usou meu corpo incomum e me investiu da capacidade de encorajar os espíritos e animar os corações, exatamente como diz na Bíblia: “Porque eu bem sei os pensamentos que mantenho para convosco […] desígnios de prosperidade, e não de calamidade, de vos garantir um futuro e uma esperança”3.
FAZENDO ACONTECER
A vida pode parecer cruel, disso não há dúvida. Às vezes as marés de azar sucedem-se e não conseguimos ver a saída. Talvez você ainda não esteja convencido de que isso pode acontecer bem agora.
O fato é que, por sermos meros mortais, temos uma visão limitada. Não conseguimos ver o futuro, o que nos aguarda lá na frente. Isso é ao mesmo tempo uma boa e uma péssima notícia. O que digo a você, e que serve como estímulo e alento, é que as coisas que estão à sua espera podem ser bem melhores do que pode imaginar. Mas depende de você se levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima.
Se a sua vida é boa e quer melhorá-la, ou se é tão ruim que nem tem coragem de se levantar da cama, o fato é que tudo aquilo que acontecer a partir de agora depende de você e de seu Criador. Sim, é verdade, você não pode controlar tudo. E muitas vezes acontecem coisas ruins mesmo com pessoas muito boas. Talvez não seja justo que não viva em um mar de rosas, mas se é essa a sua realidade, tem de lidar com ela.
Talvez você hesite, tropece. As pessoas podem duvidar de você. Quando passei a me concentrar na ideia de seguir a carreira de palestrante e evangelizador, até mesmo meus pais questionaram minha decisão.
— Não acha que a carreira de contador, com seu próprio escritório, seria mais adequada para você, diante das circunstâncias? Não acha que isso lhe propiciaria um futuro melhor? — perguntou meu pai.
Sim, de muitos pontos de vista é provável que uma carreira na área de contabilidade fizesse mais sentido para mim, porque de fato tenho talento para destrinchar números. Mas desde menino sinto essa absoluta paixão por compartilhar minha fé e a esperança em uma vida melhor. Quando você encontra seu verdadeiro propósito, a paixão vem junto, e passa a viver em nome disso.
Se ainda procura seu caminho na vida, saiba que é normal sentir um pouco de frustração. Trata-se de uma maratona, não uma corrida de curta distância a toda velocidade. Seu anseio de encontrar um sentido é sinal de que está crescendo, indo além dos limites e desenvolvendo seus talentos. De vez em quando é saudável parar e olhar para o lugar em que está, e se perguntar se suas ações e prioridades estão a serviço de um propósito mais elevado.
ILUMINANDO O CAMINHO
Aos 15 anos de idade acertei as contas com Deus, pedindo que Ele me perdoasse e me orientasse. Pedi a Deus para iluminar meu caminho na direção do meu propósito. Quatro anos depois de ser batizado, comecei a dar palestras e fazer sermões sobre a minha fé; ao falar para as pessoas, soube que tinha encontrado minha vocação. Hoje, a minha carreira de orador e evangelizador cresceu e tenho um ministério global; poucos anos atrás, de maneira bastante inesperada, aconteceu algo que elevou meu coração ainda mais alto e confirmou que tinha escolhido o caminho certo.
Nada parecia fora do normal naquela manhã de domingo em que me dirigi a uma igreja na Califórnia para pregar. Ao contrário da maior parte das minhas apresentações, que aconteciam nos confins dos quatro cantos do mundo, aquele lugar — a Igreja Cristã da Avenida Knott, em Anaheim — fica perto da minha casa, na mesma rua em que moro.
Quando entrei, sentado em minha cadeira de rodas, o coro entoava sua canção de abertura. Sentei-me num banco da primeira fila enquanto a congregação enchia a enorme igreja e comecei a preparar mentalmente a minha fala. Seria a minha primeira vez que discursaria para os paroquianos da Avenida Knott e não achei que soubessem muita coisa a meu respeito. Fiquei surpreso ao ouvir alguém chamando:
—Nick! Nick!
Não reconheci a voz e nem sequer sabia ao certo se era eu mesmo o Nick que chamavam, mas, quando me virei, vi um senhor de idade avançada acenando para mim.
— Nick! Aqui! — ele gritou de novo.
Ao ter a minha atenção, apontou para um rapazinho sentado ao seu lado e que parecia segurar um bebê. A igreja estava tão lotada que, no começo, vi apenas um vislumbre dos olhos do bebezinho, um cacho de cabelos castanhos e um sorriso banguela.
O homem ergueu o menino para que eu o visse melhor. Naquele momento, eu me senti invadido por uma sensação tão intensa que, se tivesse pernas, elas teriam ficado bambas.
O menino de olhos brilhantes era exatamente como eu. Sem braços. Sem pernas. Não tinha sequer um pezinho esquerdo como o que tenho. Embora tivesse apenas 19 meses de idade, era exatamente como eu. Entendi por que razão os dois homens estavam tão ansiosos para que visse o recém-nascido. Mais tarde soube que o menino era Daniel Martinez, filho de Chris e Patty.
Preparava-me para minha fala, mas ver Daniel — ver a mim mesmo naquela criança — disparou em mim uma gama tão intensa de sentimentos que mal conseguia pensar direito. Primeiro senti compaixão por ele e sua família. Mas depois fui bombardeado por lembranças pungentes e emoções angustiadas, e fui transportado para a época em que tinha a idade dele. Compreendi que ele devia passar pelas mesmas coisas que eu havia passado.
Sei como se sente, pensei. Já passei pelas coisas que vai ter de enfrentar. Olhando para Daniel, senti uma incrível ligação com ele, e uma onda de empatia. Vieram à tona antigos sentimentos de insegurança, frustração e solidão, que roubaram o ar dos meus pulmões. Senti que eu estava derretendo sob as luzes do palco. Fiquei tonto. Não era exatamente um ataque de pânico; a visão daquele menino à minha frente fez aparecer de novo a criança que havia dentro de mim.
Então tive uma revelação que me proporcionou uma sensação de calma. Quando era criança, não tinha ninguém com quem pudesse compartilhar minha situação, que me guiasse, mas agora Daniel tem alguém. Posso ajudá-lo. Meus pais podem ajudar os pais dele. Ele não precisa passar pelo que passei. Talvez possa poupá-lo de boa parte da dor que tive de sentir. E então pude ver claramente que, por mais difícil que seja viver sem braços e sem pernas, a minha vida ainda tem valor e utilidade. Em mim não faltava nada que me impedisse de fazer a diferença no mundo. Minha alegria seria encorajar e inspirar outras pessoas. Mesmo se não mudasse o planeta tanto quanto gostaria, com certeza a minha vida não seria em vão. Estava e estou determinado a dar a minha contribuição. E você também deve acreditar no seu poder de fazer o mesmo.
A vida sem propósito não tem esperança. A vida sem esperança não tem fé. Se encontrar uma maneira de contribuir com o outro, vai encontrar sentido e propósito na existência, e a esperança e a fé virão logo atrás, naturalmente, e o acompanharão em seu futuro.
O objetivo da minha visita à igreja da Avenida Knott era inspirar e encorajar outras pessoas. Embora a visão daquele menino tão parecido comigo inicialmente tenha me abalado, foi uma poderosa confirmação da diferença que eu poderia fazer na vida de tantas pessoas, em especial de gente enfrentando tremendas adversidades, como Daniel e seus pais.
O encontro foi tão instigante que tive de dividir com a congregação o que via e sentia. Por isso convidei os pais de Daniel para subir com ele no púlpito.
— Não existem coincidências na vida — eu disse. — Cada vez que respiramos, cada passo que damos, tudo é determinado por Deus. Não é coincidência que hoje, nesta igreja, haja outro menino sem braços e sem pernas.
Quando disse isso, Daniel abriu um sorriso radiante, que cativou todos os presentes. A congregação ficou em silêncio quando o pai do menino o ergueu ao meu lado. Aquela imagem — um rapaz e um recém-nascido com as mesmas adversidades, sorrindo um para o outro — provocou uma onda de choro na plateia.
Não sou de chorar com facilidade, mas, quando vi que todo mundo ao meu redor estava se debulhando em lágrimas, não pude evitar e também chorei muito. Naquela mesma noite, já em casa, lembro-me de não ter dito uma única palavra. Não conseguia tirar do pensamento aquele menino e imaginei que ele devia estar sentindo exatamente a mesma coisa que senti na idade dele. Mal podia esperar para contar aos meus pais, porque sabia que ficariam ansiosos para conhecer aquela criança e dar esperança a ela e à sua família. Minha mãe e meu pai tinham passado por tanta coisa sem contar com ninguém para guiá-los. Sabia que ficariam gratos pela oportunidade de ajudá-los.
MOMENTO DE PROPÓSITO
Aquele tinha sido um momento surreal e tocante para mim. Fiquei mudo, (o que é raridade), e quando Daniel olhou para mim meu coração derreteu. Eu ainda pensava em mim mesmo como uma criança e, uma vez que nunca tinha visto mais ninguém parecido comigo, queria muito saber que não estava sozinho, que não era diferente de todas as pessoas no planeta. Sentia que ninguém realmente entendia aquilo pelo que eu passava ou era capaz de compreender minha dor e minha solidão.
Ao refletir sobre a minha infância, fiquei impressionado por toda a dor que sentira simplesmente por saber que era diferente. Quando outras pessoas zombavam de mim ou me evitavam, isso aumentava ainda mais o sofrimento. Mas em comparação à infinita misericórdia, à glória e ao poder de Deus que sentia por causa daquele momento com Daniel, minha dor de repente ficou insignificante.
Não desejaria minha deficiência a ninguém, por isso fiquei triste por Daniel. Mas sabia que Deus tinha colocado aquela criança no meu caminho para que eu pudesse aliviar o fardo dela. Era como se Deus estivesse piscando para mim e dizendo:
— Ahá! Viu só como eu tinha mesmo um plano para você!?
ANIME-SE
É claro que não tenho todas as respostas. Não conheço a dor nem as adversidades específicas que você enfrenta na vida. Vim para este mundo com limitações físicas, mas jamais senti a dor de ser maltratado, negligenciado ou abandonado. Nunca tive de lidar com uma família destruída ou desestruturada. Não perdi meus pais nem sofri com a morte de um irmão ou irmã. Há muitas experiências ruins de que fui poupado. Estou convicto de que em muitos aspectos a minha vida foi mil vezes mais fácil do que a de muita gente.
Naquele momento, que mudou minha vida, em que vi Daniel em meio à multidão, compreendi que tinha me transformado no milagre pelo qual eu tanto rezava. Deus não tinha me dado a graça divina. Em vez disso, fez de mim o milagre de Daniel.
Tinha 24 anos quando conheci Daniel. Naquele mesmo dia, quando Patty, a mãe dele, abraçou-me, disse que era como avançar alguns anos no futuro e abraçar seu próprio filho, já adulto.
— Você não faz ideia — ela disse —, rezava e pedia a Deus que me mandasse um sinal de que Ele não tinha nos esquecido, nem a mim nem ao meu filho. Você é um milagre. É o nosso milagre.
Um dos aspectos mais incríveis do nosso encontro é que, naquele mesmo domingo, meus pais vinham da Austrália, para sua primeira visita desde que me mudara para os Estados Unidos um ano antes. Alguns dias depois, conheceram Daniel e os pais dele. E pode acreditar que tinham muito o que conversar.
Chris e Patty me consideraram uma bênção para Daniel, mas meus pais foram uma compensação ainda maior para eles. Quem poderia estar mais bem preparado do que meus pais para orientá-los na criação de uma criança sem braços e sem pernas? Quem seria capaz de lhes dar não apenas esperança, mas também uma sólida prova de que Daniel poderia levar uma vida bastante normal, e que ele também descobriria as bênçãos que estava destinado a compartilhar? Fomos afortunados por dividir nossas experiências com eles, encorajá-los e oferecer provas de que não existem limites para uma vida sem os membros inferiores e superiores.
Ao mesmo tempo, Daniel é uma máquina de venturas para mim, e me dá muito mais do que eu poderia lhe oferecer, por causa de sua energia e alegria, e essa foi outra recompensa totalmente inesperada.
UMA VIDA PARA COMPARTILHAR
A falecida Hellen Keller perdeu a visão e a audição antes mesmo de completar 2 anos de idade, mas tornou-se uma escritora mundialmente renomada, filósofa, conferencista e ativista social. Essa grande mulher disse que a verdadeira felicidade só é alcançada por meio da “fidelidade a um propósito digno”.
O que isso quer dizer? Para mim, significa ser fiel aos seus dons, cultivá- los, compartilhá-los e extrair deles alegria. Significa ir além da procura de autossatisfação e empreender uma busca mais madura de sentido e realização.
Você recebe as maiores recompensas da vida quando é generoso, quando se doa, sem pedir contrapartida. A ideia é melhorar a vida das pessoas, ser parte de algo maior do que você mesmo e fazer uma diferença positiva. Não precisa ser Madre Teresa para fazer isso. Você pode até ser um cara deficiente ou portador de necessidades especiais e ainda assim causar impacto. Pergunte à mocinha que me enviou este e-mail para nosso site Life without limbs (Vida sem braços e pernas).
Querido Nick,
Uau, nem sei por onde começar. Acho que vou começar me apresentando. Tenho 16 anos, estou escrevendo porque assisti ao seu DVD Sem braços, sem pernas, sem problemas, que causou um tremendo impacto na minha vida e na minha recuperação. Eu digo recuperação porque estou me recuperando de uma desordem alimentar, a anorexia. No último ano, passei um bom tempo internada, entrei e saí várias vezes de centros de tratamento, e foi o pior capítulo da minha vida. Recentemente, recebi alta de uma clínica residencial de tratamento localizada na Califórnia. Enquanto estava internada lá, assisti a seu DVD. Jamais me senti tão entusiasmada e tão motivada em toda a minha vida. Você me deixou realmente encantada. Tudo em você é tão maravilhoso e tão positivo. Todas as palavras que ouvi da sua boca causaram algum tipo de impacto em mim. Jamais me senti tão agradecida. Houve momentos na minha vida em que pensei que tinha chegado ao fundo do poço, mas agora vejo que todo mundo tem um propósito na vida, e que as pessoas devem se respeitar por aquilo que são. Uau, sério mesmo — jamais conseguiria agradecer você por todo encorajamento que seu DVD me proporcionou. Eu gostaria de um dia poder encontrá-lo pessoalmente; é algo que sonho fazer antes de morrer. Você tem a melhor personalidade que um ser humano pode ter — você me fez rir tanto (o que é muito difícil quando se está na reabilitação). Por sua causa agora estou mais forte e mais consciente de quem sou, e já não me sinto mais tão obcecada pelo que outras pessoas pensam de mim. Você me ensinou a transformar meus defeitos e pontos negativos em qualidades e pontos positivos. Obrigada por salvar a minha vida e por promover essa reviravolta em mim. Nem sei como agradecer — você é meu herói!
USANDO MINHA EXPERIÊNCIA
Sinto-me grato por receber muitas cartas como essa, o que parece especialmente estranho, uma vez que, quando criança, eu era desesperado demais e não conseguia apreciar a minha própria vida, quanto mais ajudar outras pessoas. A sua busca por propósito pode estar em plena marcha neste momento, mas não acredito que alguém possa se sentir realmente realizado a menos que ajude os outros. Cada um de nós espera usar os próprios talentos e conhecimentos para conseguir outros benefícios que vão muito além de apenas pagar as contas do mês.
No mundo de hoje, embora tenhamos plena consciência do vazio espiritual resultado da posse de bens materiais, ainda assim precisamos de lembretes de que a realização e a satisfação nada têm a ver com a conquista de bens materiais. É claro que na busca por satisfação as pessoas tentam as mais estranhas opções. Bebem caixas de cerveja. Usam drogas para esquecer a realidade. Modificam seu corpo para se aproximar o máximo possível de algum padrão de beleza arbitrário. Algumas trabalham a vida inteira para chegar ao auge do sucesso, e depois são impiedosamente arrancadas de lá, em um piscar de olhos. Mas aquelas mais sensíveis sabem que não existe atalho fácil para a felicidade duradoura. Se apostar todas as suas fichas em prazeres temporários, vai encontrar apenas satisfação fugaz — a velha história daquele ditado: “o que é bom dura pouco”.
A essência da vida não é ter, mas ser. Você pode se cercar de tudo aquilo que o dinheiro pode comprar e mesmo assim se sentir um ser humano completamente infeliz. Conheço pessoas de corpo perfeito que não conheceram metade da felicidade que conheci. Em minhas jornadas, vi mais alegria nas favelas de Mumbai e em orfanatos da África do que em condomínios fechados e gigantescas mansões que valem milhões de dólares.
Por que isso acontece?
Você vai encontrar a alegria quando colocar em prática seus talentos e paixões, a pleno vapor. Reconheça que a satisfação instantânea não passa exatamente disso mesmo, um prazer imediatista. Resista à tentação de se prender a objetos materiais como a casa perfeita, as roupas da moda ou o carro mais bacana. A síndrome do “se eu tivesse X, seria feliz” é uma ilusão coletiva. Quando você procura a felicidade em meros objetos, eles nunca são suficientes.
Olhe à sua volta. Olhe para dentro de si mesmo.
Quando eu era criança, imaginava que se Deus simplesmente me desse braços e pernas seria feliz para o resto da vida. Minha ideia não me parecia nada egoísta, já que braços e pernas são equipamento padrão. Ainda assim, descobri que posso ser feliz e realizado mesmo sem eles. E Daniel me ajudou a confirmar isso. A experiência de entrar em contato com a família dele serviu para me lembrar de qual é a minha missão na Terra.
Assim que meus pais desembarcaram na Califórnia, nós nos encontramos com a família de Daniel, e testemunhei algo muito especial. Passamos horas conversando com os pais de Daniel, comparando experiências, discutindo de que maneira tínhamos lidado com as adversidades que ele teria de enfrentar. Desde aqueles primeiros dias, formamos um sólido laço de amizade, que até hoje continua firme e forte.
Um ano depois do nosso primeiro encontro, nos reunimos novamente, e os pais de Daniel comentaram que os médicos do menino achavam que ele ainda não estava pronto para usar uma cadeira de rodas customizada como a que tenho.
— Por que não? — perguntei. — Eu tinha mais ou menos a idade dele quando comecei a pilotar a minha própria cadeira de rodas.
Para provar meu argumento, desci da minha cadeira e deixei Daniel ocupar meu lugar. Ele conseguiu se ajustar perfeitamente ao controle. E adorou! E a manobrou muito bem. Graças ao fato de estarmos lá, teve a oportunidade de provar aos pais dele que podia dar conta de uma cadeira de rodas customizada. Foi apenas um exemplo das muitas maneiras pelas quais sabia que poderia ajudá-lo e iluminar seu caminho, com base nas minhas experiências. Mal consigo expressar a alegria que sinto por poder atuar como guia de Daniel.
Naquele dia, demos a ele um raro presente, mas propiciou-me algo ainda melhor: um inigualável sentimento de realização ao perceber sua alegria.
Nenhum carro de luxo, nenhuma mansão, nada se compara à sensação de cumprir seu destino e agir conforme o plano de Deus.
É um presente que só me dá alegrias contínuas. Em uma visita posterior à casa de Daniel, meus pais compartilharam com os dele a lembrança de uma de suas primeiras preocupações: a de que, por não ter braços nem pernas para me manter à tona, me afogaria na banheira. Como resultado, quando eu era criança meus pais tomavam extremo cuidado na hora de me dar banho. Depois que cresci um pouco, meu pai me segurava delicadamente na água, mostrando-me que eu podia boiar. Com o tempo fiquei mais confiante e ousado e aprendi que boiaria facilmente se segurasse um pouco de ar nos pulmões. Descobri inclusive que podia usar meu pezinho esquerdo como hélice para me impulsionar pela água. Levando em conta o pavor que os meus pais sentiam, imagine o espanto deles quando viram que me tornei um exímio nadador, mergulhando em todas as piscinas, lagos, lagoas, rios e praias que conseguia encontrar.
Depois de contar essa história aos pais de Daniel, ficamos felizes em saber que uma das primeiras frases que ele disse assim que aprendeu a falar com mais clareza foi:
— Eu nado igual ao Nick!
Agora Daniel também é um nadador de primeira. Não tenho palavras para expressar a extraordinária alegria que isso me faz sentir. Vê-lo se beneficiar das minhas experiências dá um sentido mais profundo à minha vida. Se a minha história não comover nem influenciar mais ninguém, apenas a determinação de Daniel para “nadar igual ao Nick” já bastaria para fazer a minha vida e todas as adversidades que enfrentei valerem a pena.
Reconhecer qual é seu propósito na vida significa tudo. Garanto que você também tem alguma contribuição a dar. Talvez não consiga ver isso agora, mas, se não fosse verdade, não estaria no planeta. Sei com absoluta convicção que Deus não comete erros, mas faz milagres. Eu sou um. Você também é.

Nenhum comentário:

Postar um comentário